É você?

Capítulo XXVII

Enquanto a chuva de granizo cai sob nossas cabeças, me sinto banhada de outras sensações. Existe uma certa paixão entre o ódio e o amor. A necessidade e a ausência.

Apesar de não reconhecer muito em meus sonhos, sinto a cada arrepio, que a partida estava próxima de algo da qual eu precisava, mas havia dois caminhos para seguir. Pedir ajuda ao guardião do amor, seria um tipo diferente de cadeado, onde me tranco no sentimento e me vejo dependente dele.

Foi assim, não é? Após me sequestrar, o homem me deixou ir. É dessa maneira que o amor funciona? Nos apegamos aquela ínfima criatura de aparência adorável, e então nossos braços quebram seus ossos quando forçamos sua permanência. Ele viu que estava me machucando, e me deixou ir.

Mas, outrora havia me aprisionado a sua própria existência, então, não seria uma singela liberdade que poderia me encaminhar para de volta ao que um dia pertenceu a mim.

A verdade, é que sinto através desses sonhos que no segundo em que senti a textura de seu toque, fui fadada a um castigo eterno dado sem qualquer resquício de compaixão. No momento em que nossos olhos se encontraram dentro da alma um do outro, eu, um ser feito à base de poder e luz, reconheci sentimentos demais para poder voltar a ser pueril.

Por culpa do desespero humano, pertencemos um ao outro, em uma eterna gangorra de sentimentos que nos sequestram a cada século. Por culpa de suas mãos e seus sentimentos, fui corrompida e passei a sentir.

Senti tanto, que o pecado, escuridão e dor, foram despertados de uma só vez.

Despertados, não adquiridos.

E sobre isso, existe uma vasta diferença.

...

A morte machuca? Deixa seu corpo pesado, dolorido e cansado? A morte... te deixa com uma sensação de frio na barriga, arrepios resplandecentes, e faz um sorriso masoquista nascer em seu rosto?

Se a morte trás tudo isso, por muito tempo presumo que estive em outro plano da vida, pois foi assim que acordei. No minuto em que abri meus olhos senti a pressão da atmosfera me forçar para baixo com toda sua força, e sem qualquer delicadeza.

Abrir os olhos... Eu abri os olhos...

Não estou morta? Foi o que Sasuke-kun disse que faria comigo, me mataria por não suportar a sede em seu corpo. Mas, se não estou morta, então onde ele está?

Movi meu braço para tentar me levantar e senti uma dor terrível nos músculos, assim como em minhas pernas ao dobrá-las. Não me disseram que ter relações com um vampiro poderia ser tão... Ao menos, essas dores não surgem no ato, mas o pós é cansativo.

Desci os olhos para baixo, ao notar um friozinho em minha pele, vindo da janela, uma pequena brisa faz com que as cortinas verde-água se movam. Estou nua por baixo de lençóis brancos, mas um pouco sujos de sangue na região da... Bem, e próximo a minha cabeça, na direção em que meu pescoço dói.

Apesar da dor, puxei o lençol e me sentei próxima a cabeceira, ou o que restou dela. Está tudo destruído, o quarto está uma zona e vejo várias penas soltas dos travesseiros, inclusive no meu cabelo.

Tem muitos cacos de vidro no chão, meu roupão está rasgado, mas não me lembro de Sasuke rasgando ontem. Sinto que se eu me mexer um pouco mais, o que restou da cama, desaba.

Ele é tão... Mordisquei o lábio, também senti um pouco de dor ao fazer isso, mas não deixo de apreciar as memórias. Em minha cabeça, ele foi gentil no início, mas quando se está sentindo prazer, não se pensa nas consequências do dia seguinte, e isso aconteceu comigo.