Capitulo VII

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Deslizo pelas memórias tiradas a força da minha galeria, tomadas sem permissão, me deixando entre um espaço oco e vazio, e na insistente pergunta "estou enlouquecendo?" Pois me tiraram tais coisas, mas o vazio continuou ali, persistente nas minhas costas, deixando claro que algo aconteceu, algo foi tirado e o espaço vazio não era em vão.

No momento, suspeito que são os remédios que me tiraram quase todas as lembranças do passado, de quando eu era criança e caminhava sozinha pelos corredores do orfanato, ou no parque, pois antes das meninas mais novas chegarem, eu estava lá, só, em meu próprio vazio e abandono, ao menos foi o que eu pensei.

Mas agora, me vejo de frente a quem eu era, a menininha de cabelos curtos que andava para cima e para baixo com um gatinho preto de pelúcia, e não me recordava de quem havia me dado tal presente, não até vislumbrar a mim mesma, conversando com a sombra atrás da janela.

— Eu queria um pônei, você vai me dar?

Não me lembrava de pedir as coisas sem filtro, Tsunade sempre disse que eu era retraída em meus pedidos, e que na verdade, era ela a insistir para que eu aceitasse alguma coisa. Agora, vejo-me confortável para falar com algo imaginário, ou realmente algo tomado de mim.

— Aa. Quantos quiser.

A voz parece corrompida, como um CD velho que tira a qualidade do som, mas... eu não sei o que pensar.

— Que dia vou poder ver seu rosto? Eu queria brincar, mas você se esconde. com vergonha?

Ouvi a sombra rir baixinho, um som que não me recordo de já ter escutado em qualquer momento, minhas memórias se embaralham, não compreendo muita coisa nesse cenário.

— Talvez um dia você me veja.

— E vai demorar?

Eu queria que ele respondesse, queria ter tido tempo para ouvir o que ele diria, mas a voz de Tsunade tomou o cenário, e a pequena eu se virou para olhá-la. Não há mais nada aqui, pois a partir daí, eu já me recordo bem do que aconteceu.

Fui guiada para outro lugar, onde estou no jardim colhendo uma flor branca, o sol bate em algo alto atrás de mim, fazendo uma sombra grande, mas sem formato.

— Posso virar agora? Eu quero a flor que está atrás de você.

Penso que eu não consiga me virar e vê-lo, pois a lembrança da antiga eu, não permite que me nova sem a permissão do estranho, sendo assim, me corrói ficar fixa no mesmo lugar, só olhando o pequeno jardim e as minhas mãos pequenas sujas de terra.

A sombra lhe entregou a flor ainda com seus galhos, nem ao menos posso reconhecer suas mãos, pois usa luvas de couro, que vão até o antebraço, começando após isso, um tecido grosso em volta, nem ao menos a cor de sua pele me foi concebida.

— Essa possui espinhos, pode se machucar.

A pequena eu, tentou se virar, e por um segundo, pensei que estava a ponto de vê-lo, mas tudo se apagou e então o cenário mudou para o meu antigo quarto, eu estou dormindo, e a sombra está ali. Pensei que talvez eu sentiria medo disso, mas sinto segurança, e o homem caminha de um lado para o outro, lentamente, antes de se sentar na poltrona e tomar um livro da estante. Isso me trás a sensação de déjà vu, me invadindo e fazendo meu estômago saltar em suas cambalhotas nada contidas. Mas... se estou vendo minhas lembranças, por que não consigo vê-lo? Por que essa cena está rodando se na verdade eu estou dormindo?

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