Capítulo XIII

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Em um campo de rosas brancas, me vejo vagando sem rumo em busca de respostas.

Como sempre.

Meus pés estão descalços, e uso um vestido vermelho escarlate, contrastando com o campo belo e com uma paz fingida. Não consigo ver o céu, sempre que olho para cima uma luz forte me impede de enxergar sua cor, mas a luz faz com que pareça um dia de sol, tranquilo com uma brisa fresca de verão.

Mas, à frente, vejo uma caixa entre duas árvores sem folhas, apenas galhos. Tão díspar ao campo belo que sinto receio de ir até lá. Guiada pela minha curiosidade, isso não durou muito até que eu me visse caminhando entre as rosas, sem olhar para baixo, não tenho controle para saber onde estou pisando, pois só ando no automático, presa em meu próprio corpo.

Uma espécie de caixão de vidro, me faz parar o movimento. Existe alguém ali, e não sei se o medo me deu forças para não prosseguir a caminhada, ou meu corpo simplesmente parou, como uma brincadeira entre a minha incerteza e a curiosidade me comendo de dentro para fora, sem chances de escapar.

Meu corpo volta a se movimentar, uma ansiedade inquietante toma conta do meu peito, de forma que quase não consigo respirar devido à pressão exigida. Meus olhos turvos querem ignorar o que ali existe, e antes que eu me force a ver, o som dos corvos preenche meus ouvidos, majestosos e assustadores.

Se assemelha a um apocalipse, um feito apenas para mim, seja para me assustar ou não. Suas asas batem em volta do meu corpo, manchando o vermelho com o negro e Branco, a medida que as penas deslizam em cima da minha pele. Olho para trás, e o mar de rosas brancas já não existe, pois as rosas negras tomaram conta. O caixão, antes fechado, agora está aberto, e manchas avermelhadas fazem parte do cenário.

Ao chão, rosas se encontram espalhadas e manchadas de vermelho, com penas gravadas em suas pétalas, em pé, uma posição anormal. Mas o que seria isso no meio de tudo o que me cerca? Seria a coisa mais normal que encontro hoje...

Novamente, me forço a encarar o que está diante de mim. Pisco algumas vezes para tornar nítida a minha visão, mesmo que talvez não resolva, sei que a uma força superior a mim. Forço tanto, que sinto a pontada atingir o lado esquerdo da minha cabeça, até que a visão seja clara.

Não escondo o choque, não sei o que mais me apavora: Enxergar a mim mesma, deitada sob o caixão, os cabelos mais longos e a pele pálida. Ou o meu coração arrancado, nas garras de um corvo branco. O grito parou em minha garganta, forçando passagem para que se torne mais fácil lidar com isso. Mas não se torna, a minha intuição pede para que eu fuja, e corra. Não demorei a obedecê-la. Entretanto, tudo parece atrasado como um relógio girando e voltando somente para mim, pois, ao me virar, novamente as rosas já não pertencem mais ao chão. Estão todas flutuando em volta de mim, dançando de maneira assustadora e coagindo sua presa sem saída.

Sinto que todo final de meus sonhos, a morte se torna iminente ao tentar me atacar e me tomar como sua. Todos eles. E cá estou eu mais uma vez, parada sem saber o que fazer. E lá estão as rosas, com seus espinhos apontados em minha direção, firmes para me abater, e me empalar em uma morte embelezada e poética. Talvez esteja de frente ao meu futuro, um futuro não muito longe, pois está para se realizar agora.

A primeira vem em direção a minha barriga, mas não me dá qualquer tempo para esquivar, as outras resolvem seguir caminho em minha direção, rapidamente. Em um piscar de olhos, apertei meus punhos e espero, espero, e ao abrir novamente, uma onda se impulsiona a minha frente, e todas elas se afastam com brusquidão, sendo compelidas.

Minha cabeça implora para que eu pare, existe uma voz mandando e chorando por isso. Não entendo o que ela diz, não me é permitido ouvir. Mas as flores foram talhadas nas duas árvores que formam o arco, e já não existe mais nenhuma no campo, agora em tons oliva, e amarelo em sua junção. Como palha molhada em meio a tempestade.

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