Capítulo II

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A sombra das árvores invadem meu quarto durante a noite. Elas me impedem de dormir, eu não consigo fechar os olhos direito pois é como se os galhos quisessem entrar dentro deles, e sempre que abro as pálpebras, elas estão ali, balançando junto com um sussurro bizarro.

Me levantei e fechei a janela mais vezes do que posso contar, mas ao fechar os olhos e abrir novamente, lá estavam elas, os galhos e a janela aberta. Penso que posso estar visualizando o que não está acontecendo de verdade, talvez eu nem tenha me levantado em momento nenhum, só pensei ter feito. Isso ocorre muito, está frio e eu estou debaixo das cobertas, então, meu corpo projetou algo que não aconteceu de verdade.

Tentei dormir outra vez, mas a sensação de que algo me observa é persistente, e o medo dessa vez é real, pois não era apenas uma sensação. Ouvi passos pelo meu quarto, a madeira do piso faz barulho quando pisa, e por isso sei que tem alguém aqui.

É nessas horas que me sinto uma criança de cinco anos, quando se está dormindo e sente que alguém está pronto para puxar seu pé, mas você não levanta, apenas se encolhe mais e se enfia debaixo dos cobertores o resto da noite. A dificuldade para respirar atrapalha, mas você prefere morrer sufocada ao ter que abrir os olhos. No entanto, eu não sou mais uma criança, então eu tirei o cobertor da minha cabeça, mas...

— Bom dia, Sakura. — Karin entrou, e eu me lembro bem que estava de noite, o frio, a sombra e o barulho da coruja era a minha constatação, mas... o que aconteceu?

— Que horas são? — Perguntei revirando meu quarto com os olhos.

— Hora de levantar. Vai tomar um banho, daqui a pouco nós vamos pra sala. — Sai da cama. Às vezes quero gritar com a confusão instalada na minha cabeça, pois ao olhar a janela, vejo que está fechada. — Não se esqueça do remédio.

Karin já entrou aqui preparada, me entregou uma garrafinha d'água e esperou eu tomar o remédio. Me dá dores de cabeça, me deixa fraca e às vezes com falta de ar, além de tirar o meu paladar, e isso é o que ironicamente me mantém viva.

Peguei minha toalha e fui para o banheiro, algumas meninas saíam dele, acho que acordei um pouco atrasada. O banheiro continua escuro, mas quente graças ao banho recém tomado delas, entrei em uma das cabines e liguei o chuveiro, a água está queimando de quente mas assim que é bom, amolece um pouco dos meus pensamentos confusos e embaralhados como um jogo de cartas amador, a separação não era bem dividida e alguns me assustavam.

Desliguei o chuveiro, mas a minha cabeça me engana e me prega peças pois o banheiro já não tem uma única garota, a luz do sol que invadia o local pela pequena janelinha, já não existe mais, tudo está um completo breu como se eu estivesse presa em um apagão e só o som das pequenas gotas do chuveiro e o meu coração acelerado ecoavam pelo local. Em um meio passo incerto, senti meus tornozelos serem puxados com extrema força para baixo, mas algo impediu que eu batesse a cabeça.

— Me... solta!!! — Tentei gritar enquanto lutava com o vazio, mas senti esse mesmo ser subir em cima de mim e contornar meu pescoço com suas mãos geladas. Não importa o tanto que eu gritava e arranhava sua mão, parecia gelo, não tinha a textura de uma pele humana, era dura como pedra e eu não ouvia sua respiração, só o aperto forte no meu pescoço, quase apagando minha visão, deixando-a turva. — Karin!!!!

Parecia não acabar mais, eu perdia as poucas forças que tinha e minhas pernas já não conseguia lutar para escapar das mãos dessa coisa. Quando pensei que não conseguiria escapar, e o mundo dos sonhos ia me buscar e me tirar daqui, a luz voltou e já não havia o vazio em cima de mim, apenas várias garotas me encarando no chão frio. Minha respiração ainda estava descompassada e meu pescoço dói, tentei me levantar mas escorreguei e caí de joelhos, algumas prenderam o riso, outras não disfarçaram, creio que a loira seja a dona da risada.

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