Capítulo XVIII.

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Não consigo respirar.

Estou deitada na terra enlameada, minhas mãos estão molhadas e com areia dentro das unhas. Não consigo me mover nesse lugar, está tudo escuro e não ouço coisa alguma. Levanto as minhas mãos com cuidado, tentando aos poucos tocar em qualquer coisa que esteja na minha frente. Fica cada vez mais apertado, me sinto claustrofóbica nessa prisão desconhecida. Não precisei levantar as mãos tão alto, existe uma caixa, e ao pressionar, um pouco de terra caiu em meu rosto, me fazendo fechar os olhos para expulsar o incômodo. A linha d'água ficou sensível, e de dentro para fora, minhas lágrimas lavaram a sujeira miúda em meus olhos. Pisquei algumas vezes, e tomei cuidado para não repetir isso novamente. A madeira parece antiga e mofada, pressionei um pouco mais forte, e o resto da terra caiu em meu rosto, gelada e úmida.

Senti algo gelado remexer em meus pés. Não quero olhar... não vou olhar... Sinto o cronograma da minha vida, e os segundos passando. O ar falta a cada movimento das minhas unhas cavando a terra para sair. Contra o tempo eu corro atrás do oxigênio, sentindo a queimação da terra na carne das unhas, a cada movimento brusco que faço, rapidamente até sentir um filtro de ar me tomar, e com dificuldade eu levantar a minha cabeça, e me descobrir...

Dentro d'água...

Me afogo ao respirar fundo, a queimação em meu nariz doi. Não parece como água salgada, sinto minha garganta fechar, ao engolir tanta água e pesar meu corpo. Minhas mãos estão erguidas, tentando nadar para a superfície gelada, ao meu redor, sinto o movimento de criaturas, aumentando ainda mais o meu desespero.

Fecho os olhos, e de repente me vejo na superfície, com o peito sangrando e garganta dolorida de tanto tossir. Tomo fôlego pela boca, mas respirar machuca meus pulmões, como se não fosse adequado que eu fizesse, mesmo com tanta vontade de fazer. Olho em volta, o lugar parece o meio de uma floresta, ao olhar para trás, vejo um rio pequeno, com uma neblina espessa em volta dela. Mas o que me chama atenção, é o crocitar daquele mesmo corvo, e de repente minha pele se arrepia ao vê-lo.

Ele está aqui... eu posso sentir. Eu posso-

Mate-a.

Uma voz ordena, e antes que eu pudesse me virar para reconhecer o tom sibilante, meu pescoço é envolvido por mãos frias. O choque não é descrito com perfeição em minha face, quando mal tenho tempo de respirar e tomar nota do que ocorre. Me agarro aos braços gelados, tentando arranhar sua pele para que me solte. Ele me arrasta pelo pescoço até de volta ao rio, lentamente, como se o meu esforço para escapar não fosse nada, como se a sua vontade de me privar da vida fosse mais intensa do que qualquer outra coisa.

Sinto os fios dos meus cabelos tocando a água gelada primeiro, até o couro cabeludo. Na luz, antes de pressionar minha cabeça contra o rio, e apertar meu pescoço ali mesmo, enquanto me debato e rogo por sua misericórdia, vejo Sasuke, sorrindo, sentindo o prazer em me afogar.

...

Levanto, sem ar, sem fôlego, sem nada. Em volta do quarto, tudo está claro, mas no vidro da janela vejo o clima dominante de Konoha, a chuva intensa e a neblina capaz de cegar qualquer pessoa que tenha a ousadia de sair.

— Outro pesadelo?

Ouvi uma voz conhecida e melodiosa, encharcada de um sarcasmo natural. Olhei para o outro lado do meu quarto, Ino está encostada na parede, de braços cruzados. Suas roupas me lembram os caçadores, calças de couro, uma blusa da mesma forma e capa. Eu poderia chamar de fantasia.

— A quanto tempo está aqui?

Pergunto, mas ela não me responde de imediato, ao invés disso, me encara sem expressar muito. Voltei a deitar no travesseiro, meu corpo está dolorido, e aos poucos me lembro do que aconteceu, da última vez que estive lúcida. Olhei para meus braços e tirei a coberta por alguns instantes, estou com a minha roupa de dormir... e as marcas de mordidas continuam aqui, vermelhas ainda e dolorosas. Em meu braço esquerdo, minha veia está um pouco inchada e arroxeada no meio, vermelha em volta. Isso não é bom...

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