Capítulo XII

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O calor emana do meu corpo, fervente e incontrolável. Não consigo me mover, me vejo presa, e completamente frágil aos olhos incandescentes no canto do quarto. Sinto o suor escorrer pelo meu corpo nu, desprovida de tudo e vestida em arrepios constantes.

Meu coração bate de maneira desregulada, doloroso, e outra sensação que não sei descrever. Mas o crocitar de um corvo chama a minha atenção, levando meus olhos ao encarar a janela aberta. O vento que entra não é suficiente para calar o calor intenso. Meus cabelos estão colados em meu corpo, e não sei o motivo específico para me sentir tão...

Prendo a respiração ao ver a sombra de uma ave se mover na janela, até enfim entrar, se aproximando de mim com os olhos curiosos. A sombra no quarto se moveu infimamente, e só pude notar quando o corvo virou sua cabeça para olhá-lo.

Não sei descrever o misto de sentimentos que emanam de mim. Um pouco de medo, pois ao pensar mais na maneira em que eles se encaram, vejo o... chefe da qual Karin me alertou.

Concluo ser isso em uma espécie de grito interno ao ver vários corvos adentrarem a janela. Eles voam em círculos ao redor do meu corpo, e aquele que foi o primeiro a vir, se moveu até pousar no ombro da sombra, ou a quem eu me refiro consternada, como: meu algoz.

O movimento constante e o crocitar ininterrupto, fez meus ouvidos doerem, e suas penas despencaram sob meu corpo, cobrindo a minha nudez, até se tornar uma camada grossa sobre os seios e a virilha. O homem saiu da sombra, e quando imaginei que chegaria a vê-lo, minha visão embaçou, me privando de descobrir quem seria essa pessoa. Senti ele se mover na cama, devagar como uma cobra rastejante ao redor de mim, envolvendo minha cintura com as mãos. Não sinto a textura de sua pele, mas o arrepio ao toque firme, e possessivo. Sinto que está com o rosto quase colado ao meu, mas não escuto a respiração.

Minha boca se move para tentar dizer algo, mas nada sai, nem uma palavra. E então sinto a coberta terminando de me proteger do frio, de seus olhos quentes sob meu corpo. Me proteger...

O arrepio se alastrou da ponta de meus dedos, até o topo da cabeça, quando, de repente, senti um rosto liso e gelado, roçar no meu, até encostar sua testa na minha. Não consigo fazer mais nada a não ser, entreabrir os lábios, inconscientemente, como se a minha alma pedisse esse contato com uma urgência desconhecida. Sôfrega, me movo um pouco para tentar mais contato. Eu não sei o porquê... mas eu quero tanto. O suficiente para me considerar louca, ainda entre: assustada, irritada, com medo e... desejosa.

Sakura...

Sua voz está corrompida aos meus ouvidos, e quero chorar por isso... sinto seus lábios roçando nos meus, mas sem mais do que isso. Se eu conseguisse me mexer, quem sabe...

Ele se afastou um pouco, como se reconhecesse meus pensamentos, nublados por um sentimento estranho. Sua mão não abandonou a minha cintura, e a outra, senti afundar no travesseiro, no topo da minha cabeça. De maneira quase poética, deixei que se colocasse entre minhas pernas. Suas roupas são grossas e geladas, me causam arrepios atrevidos e censuráveis. Eu...

— Me mostre quem é você.

Pedi, sôfrega, quase como se estivesse implorando. Em resposta, obtive uma risada anasalada. A maneira íntima em que estamos, me faz pensar que meu corpo quer me trair, sem que eu notasse.

Tentei tocar seu rosto, com a pouca liberdade que possuo, mas, um toque familiar em meu pulso, me impedindo, me trouxe ainda mais confusão. Minha mente está embaralhada, quase dolorida, sinto que brinca comigo.

— Me beija...

Me assustei com o pedido saindo, rogando pela minha garganta. Minha voz não foi mais do que um murmúrio sem ar. Mais daquela risada foi-me oferecida. Meu coração se acelera a cada suspiro que sai de meus lábios, a cada aperto sutil que ele dá em meu corpo. Eu não aguento mais isso, eu preciso de respostas.

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