Uma corte, e o vazio em palavras abertas. Sem som. Sem voz. Sem nada.Esse sonho é diferente dos outros, não me lembro dele, nunca havia visto este cenário. Parece um castelo abandonado, o trono possui muitos espinhos, o teto está rachado, cheio de musgo e algumas trepadeiras revestindo as paredes com tons de rosa desbotado. O chão está arranhado, marcas fortes de unhas, acompanhadas de manchas vermelhas por todo o espaço. Quase consigo imaginar o que aconteceu, como se fosse possível ouvir seus gritos de socorro.
Mas neste ambiente que muito me apavora, não me encontro sozinha para duvidar em agonia sobre as dimensões dos meus pensamentos que me levarem até aqui. Há um círculo em minha volta, com várias cadeiras, versões menores do trono na parte mais alta, em cima de três escadinhas. Sentados nelas, há pessoas vestidas com batas longas e escuras. Não consigo ver seus rostos, ou identificar quem é, eles usam máscaras medonhas, lembra-me um corvo, com um grande bico, e chapéus escuros. Suas mãos são protegidas por luvas, e um deles está mais próximo, em uma cadeira branca, enquanto todas as outras são pretas, ele aponta o dedo indicador em minha direção...
O odor forte de enxofre e fumaça invade minhas narinas, mas não sei exatamente de onde vem esse cheiro, não há nada por aqui que esteja pegando fogo, muito menos ouço o crepitar das chamas. Também não me importo em procurar, eu apenas fechei os olhos, e acordei em um salão, a sensação de olhar em volta e não ter nada, e em seguida aparecer todo esse cenário, com um alguém apontando seu dedo para mim, foi como correr de cachorros raivosos e ansiosos para te pegar. Meu coração acelerou da mesma forma, minhas mãos suaram e minha cabeça latejou ao encontrá-los. Da minha boca não saiu nada, pois tenho medo de dizer qualquer coisa, e algo ruim acontecer.
Normalmente eu não me importo, mas aqui não sei bem onde estou nem como controlar ou pular de cenário, é como se eu estivesse presa no meio do salão esperando que me salvem. Já faz quase um mês que Sasuke me protege dos meus pesadelos habituais, quando estou prestes a morrer, ele surge e faz tudo sumir, me protege e cuida de mim quando acordo assustada, ainda que não seja tão caloroso como eu gostaria que fosse. Mas aqui, ainda não há morte me sondando, e isso me apavora pois assim não sei bem como ele vai entrar. Mas sei que irá conseguir, visto que, no topo da janela estilhaçada de vidro quadriculado e colorido, está o corvo negro que me acompanha em todos os meus sonhos. Se o corvo está aqui... então ele está vindo, certo?
— Você!!
Me sobressaltei ao ponto de tropeçar nos galhos que saem do chão, e cair. O alguém que apontava para mim, gritou acusatório de repente, e então o lugar onde nenhum som estava presente, virou alvo de burburinhos entre os demais. Um ruído alcançou meus ouvidos, olhei para trás e flagrei uma grande porta, indeciso entre o vai e vem que o vento lhe compõe. Minhas roupas não são o suficiente em sonho, estou exposta em um longo vestido branco, colado em meu corpo, destacando sua transparência e tornando-se inútil. Abracei meu próprio corpo, em uma tentativa inviável de defesa às limitações humanas ao lidar com o frio que adentra o salão, juntando-se com o medo.
Me levantei lentamente, sinto todos esses olhos em mim, mas o crocitar do animal na janela, me deixa um pouco mais tranquila. Preciso falar para saber, e espero não me arrepender de tentar comunicação com esse desconhecido.
— O que eu estou fazendo aqui?
Perguntei, calma tentando manter meu tom de voz. O homem permanece apontando seu dedo para mim, mas de relance, tenho a impressão de que vi algum deles se mexer. Não o bastante para desviar os olhos e descobrir, visto que essa possibilidade me é arrancada quando todo o meu corpo se alerta ao sentir uma presença em minhas costas. Agora, tenho a impressão de que o dedo em riste não é apontado para mim, como se a cena que compõe essa peça fosse começar agora, pois, não é comigo que o homem fala... Nunca foi...
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É você?
RomanceEm busca de um novo cenário para mudar sua vida, Sakura sai do orfanato para mudar de cidade e se internar em um colégio na cidadezinha pacata de Konoha. O que ela não entendia, era que pelas suas costas, existia um mundo sobrenatural, repleto de s...