Capitulo VIII

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Correr nunca foi tão estupido quanto agora.

Sinto que andei mais do que necessário para chegar na cena que não consigo descrever exatamente o que vi. A ignorância me abandonou, e clamo por ela de volta, não consigo me arrepender por mais que tente e chore por isso em meio à minha fuga, ainda escuto o animal atrás, e eu não sei como ele ainda não me alcançou.

Não esperei Karin ou seja lá o que é aquilo, terminar aquela transformação, eu busquei forças que não pensei que teria, devido a paralisação em todo o meu corpo, e corri, corri o mais rápido que pude e continuo correndo, por mais que seja arriscado fazer isso, meu corpo não aguenta.

Talvez seja uma piada sem graça e mal contada, ninguém irá acreditar em mim, eu não acredito em meus próprios olhos, e sinto vontade de vomitar pela adrenalina. Juro ter andado pouco, mas a cada minuto que corro, mais longe estou de encontrar o meu caminho de volta para o colégio. Não suporto mais não saber de nada, mas não pensei que tivesse isso na minha frente esse tempo todo. Não sei o que era aquele pó, e a insistente ideia de que era uma droga tomou minha mente e corpo, e quero me apegar nisso com todas as minhas forças.

Não tenho mais fôlego para correr, sendo assim, me abaixei na quina de uma árvore, e tampei a minha boca com a mão. Está doendo, algo em mim está doendo como nunca antes. Respirar machuca, saber demais me dói, eu queria voltar no tempo, eu sinto medo, eu nunca senti tanto medo como agora.

— Sakura?

Ouvi a voz do homem, no momento também tenho medo dele e não quero que me encontre. Ao mesmo tempo que meu coração não para de bater fortemente, também não quero que apaguem minhas lembranças, eu quero entender se isso é real, se estou sonhando, ou se estou drogada.

— Se eu fosse você, parava de se esconder e corria, o mais rápido que pode. Já estragou tudo mesmo.

O homem começou a rir, sua risada espalhafatosa me assusta. Meus pelos se arrepiaram com a ideia de sair, e ele vir atrás de mim. No entanto, nada mais habita minha cabeça quando escuto o som forte do contato de algo grande contra o chão. A pequena pedra em minha frente está pulando, e ou eu fico aqui e coloco para fora tudo o que comi, ou corro o mais rápido possível nesse labirinto e me arrisco a acabar desmaiando.

Me levantei, mesmo sem ar para respirar devidamente, eu corri, e continuei até não ter mais para onde correr e o rosnado da coisa soar atrás de mim. Eu não consigo parar de chorar, isso não me ajuda a respirar e tomar fôlego, eu não consigo ver Karin nesse monstro grande de pelagem vermelha, eu sinto medo. Ela parou ao me ver sem saída, como sua presa sem meio de escapatória para longe, pronta para tomar-me como seu alimento. Engoli a saliva quando deu um passo em minha direção.

Não consigo mensurar sua altura, tão maior que eu, me sinto presa em uma ilusão, como meus sonhos vividos em meio a floresta, em todos que eu corro de um animal, costumo me encontrar com algo para me salvar, um novo mundo sempre me puxa, e mesmo que o cenário de chuva me de medo, eu o quero agora, mas sinto que no momento não estou sonhando.

— Me deixa em paz...

Sussurrei, e o animal fez um som estranho que doeu meus ouvidos. Fechei os olhos, talvez se for irreal, e ela me atacar, voltarei a estar em minha cama.

Minha cabeça dói como nunca antes, sinto minhas veias se apertarem dentro do meu corpo. A dor inimaginável me fez ajoelhar no chão, e enfim, vomitar todo o almoço para fora, ao menos pensei ser isso, mas ao enxergar um líquido, vi a textura espessa, não tenho meios de luz para ver mais que isso, mas brilha e o cheiro me faz vomitar ainda mais. Ainda escuto o animal, ele deu mais um passo, e nesse passo, algo parece explodir de dentro para fora, em mim, me tomando em uma tempestuosa dor, emanando algo que não conheço.

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