Capítulo XVI

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Seus olhos vermelhos continuam a me observar no breu da noite. Me vejo sonolenta em meu quarto, procurando uma forma para conseguir entrar de uma vez em um dos estados do sono, não sei se estou acordada ou dormindo, mas os olhos ainda estão lá.

Eu fecho as pálpebras devagar, piscando lentamente, e a cada vez que faço isso, ele parece se aproximar mais, da cama. Seria assustador se eu não soubesse de quem se trata, acho que o corvo negro na minha janela, já trás respostas, assim como a estatura e a capa escura arrastando no chão. Eu gostaria mesmo que ele parasse com isso, pois me assusta, mas vejo que não vai acontecer da maneira que eu quero, ele vai persistir em me manter sob vigia constante.

Sonolenta, senti meu corpo paralisar quando seus passos se tornaram mais precisos. Eu não consigo me mexer, não consigo gritar e também não consigo desviar os olhos, e ele vem na minha direção por isso, está pronto para me ter a sua total mercê. Não é uma dança que eu queria ver, onde apenas eu sou girada no salão da loucura em minha mente.

Tirando proveito da minha incapacidade de movimento, a sombra veio para a luz. Depois de tantos anos sem um rosto, lá está ele com suas feições rígidas, os olhos vermelhos e a áurea ameaçadora tomando conta de todo o quarto, tomando conta de cada célula do meu corpo, pegando cada pedaço de sentimento que lhe entrego.

Suas presas mostram-se, para o meu pânico escondido voltar à beirada do penhasco que é a minha cabeça. Ele inclinou-se, e segurou o meu pescoço. Suas mãos geladas apertaram até me deixar sem ar, e a mordida dolorosa arrancou-me um grito.

Não pude me debater, não pude empurrá-lo, me senti drenada e de certa forma, usada. Ao se afastar, lá estava o sorriso e o sangue escorrendo no canto de sua boca. A dor é excruciante, por um segundo me convenci de que ele estava mesmo aqui, me machucando... mas ao piscar meus olhos, a dor me deixou, e sua presença já não era mais sentida pelo meu corpo em alerta constante.

...

Me levanto no primeiro raiar do dia frio em Konoha. O cheiro de panquecas é nítido quando respiro fundo antes mesmo de abrir meus olhos. Kakashi sempre faz isso quando durmo aqui, ainda não tenho coragem de falar com ele. Passei toda a semana trancada no quarto, Sasuke sumiu... disse que conversaria comigo na última vez, mas sumiu e eu não senti vontade de sentar em uma mesa e fingir que não vivo um pesadelo. Fingir que criaturas sobrenaturais não existem... fingir que eu não tenho uma coisa estranha dentro de mim, capaz de fazer um vampiro sangrar.

Pensei que eu fosse sentir aquela curiosidade borbulhando meu sangue, mas não sinto, eu quero correr de tudo isso. Durante uma semana, Kakashi batia na porta todos os dias, e deixava a bandeja de café da manhã na mesa. Todas as vezes eu fingia estar dormindo até que ele saísse e me deixasse sozinha, e durante a noite a mesma coisa. Eu não sinto vontade de sair dessa concha segura, até mesmo Karin tentou, mas Kakashi pediu para me deixar sozinha. Naruto também sumiu... eles são assim, me afundam em verdades, e depois fogem.

Fui até o banheiro, tomar um banho gelado durante horas, talvez me acalme. Meu coração bate forte constantemente e sem descanso, é doloroso sentir o sentimento de uma ansiedade mista ao medo paralisador, tudo ao mesmo tempo. Eu sinto medo de saber quem eu sou de verdade, sinto... receio. E por mais que eu quisesse mentir, pois queria prolongar a raiva... ficar longe dele me deixa sem uma capa de proteção, sem camadas.

Completamente exposta.

Dessa vez, pela primeira vez em muitos anos, eu realmente me sinto sozinha. Aquela sensação de que tinha alguém me observando, era ele... e eu só descobri isso, quando ele deixou de me observar e me cercar com seus olhares nada sutis. É cansativo...

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