Capítulo 23: Os Muros de Arango

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Ashkelon, Paraíso

Arango estava parado na praia, mais uma vez. Não sorria, mas estava satisfeito consigo mesmo. Tinha conseguido cumprir com seu propósito ali, e todos os seus irmãos na memória coletiva sabiam – incluindo seu Senhor de Guerra, Kifo – que ele tinha triunfado, como poucas vezes os Filhos conseguiram naquela guerra.

Vendo o ir e vir das ondas do Mar Mediterrâneo, Arango esperava por seu irmão, também membro da Soulryak, Choumei, cujas habilidades de Louryak seriam necessárias para trazer os alvos de Arango para a cidade e concluir seu plano, assim eliminando a pior – porém, paradoxalmente, a amais fraca – ameaça aos Filhos do Abismo.

Choumei surgiu no ar no segundo seguinte, com ambos os pés mergulhados no mar. O Pnamryak que o trouxe não era Tart, o que fazia sentido, já que este havia sido selado em Nova Jerusalém graças ao traidor Vizard e Jeremy Keeler. O Pnamryak voltou a desaparecer – sua missão agora era trazer Vella no momento correto a pedido de Arango.

– Como está Kifo? – Arango disse, puxando assunto; em circunstâncias normais, ele saberia do estado de seu Senhor de Guerra através da memória coletiva, mas naquele momento havia se isolado, para garantir seu controle sobre os Filhos de Ashkelon.

– Ainda se recuperando naquela ilha que ele adora. – Choumei informou. – Eu realmente não sei por que ele ainda não absorveu todas as almas daquele lugar.

– Ele gosta de experimentar, mesmo que indiretamente. – O outro retrucou. – Lembra-se de Rafael? Acho que ele está usando Kauai para descobrir a melhor forma de dominar o Paraíso depois que eliminarmos todos os anjos.

Choumei não respondeu, provando-se derrotado. Arango dificilmente perdia argumentos, não importa o quão ínfimo era. Sentiu-se ainda mais satisfeito consigo mesmo por ter superado a inteligência de um de seus irmãos.

– Vamos fazer o que você quer logo, Arango. – Choumei tinha um pouco de raiva na voz.

Para fazer o que tinha em mente, o Louryak precisaria assumir sua verdadeira forma, algo que todos os membros da Soulryak podiam fazer, mas que apenas o faziam em casos de extrema urgência ou quando precisavam acessar o poder superior que aquela forma os dava. No caso de Choumei, sua forma original não poderia condizer mais com seus poderes.

A primeira mudança veio na pele, que se tornou cinzenta, com o aspecto oleoso, úmido. Sua cabeça juntou-se ao ombro, perdendo qualquer sinal de que um dia tivera um pescoço. De suas bochechas nasceram algo que Arango só conseguia descrever como chapas, aonde ficavam seus olhos; a boca, agora muito maior e cheia de dentes pontiagudos, ficava logo abaixo – se a alma Ruff, a qual Arango tinha possuído desde o primeiro dia no Paraíso pudesse descrevê-lo, diria que Choumei tinha a cabaça de um tubarão-martelo. Seus braços agora tinham cinco vezes o tamanho original; o mesmo valia para as pernas. Por fim, desde um pouco acima de onde seria sua nuca até o fim das costas, onde nascia uma cauda de peixe, havia barbatanas triangulares.

Choumei passou a fazer movimentos com as mãos, cada um mais intenso que o anterior. Seus braços iam para frente e para trás. As ondas do Mediterrâneo começaram a acompanhar os movimentos, indo para frente e para trás cada vez mais intensamente. Não demorou muito para que Arango conseguisse ver no horizonte que as ondas começavam a tornarem-se gigantescas. Miʻridʻrin já estava naquele mar, Arango sabia, podia sentir sua mente, até mesmo a espada; e Choumei iria trazê-lo para dentro de sua armadilha.

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Sentindo meu estômago embrulhar enquanto pilotava a embarcação, pedi para Týr fazer outra vez o feitiço para impedir as náuseas. Zombando de minha fraqueza, ela o fez. Todavia, notei que as ondas claramente estavam ficando mais agitadas, fazendo subir e descer o barco vários metros; eu lutava com os controles para tentar manter o barco em seu curso.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora