Capítulo 31: Passagem

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Nova Jerusalém

Meus olhos iam de Lana para o Fruto Proibido diversas vezes. Eu não tinha ideia que ela desejava se tornar uma anormalidade como eu, Thais e o resto de nós – humanos que fugiam totalmente das leis: almas mortas com corpos vivos; a única razão de estar dando certo era que eles estavam no Paraíso, onde as almas mortas podiam existir e vivos podiam estar sem se preocupar com repercussões – e pior do que isso, ela o queria fazer por mim.

– Esse é o mesmo que precisaremos por feitiço? – Eu perguntei, pensando que a Morte poderia aparecer a qualquer momento e nos evaporar por tentar ir contra ele de maneira tão aberta.

– Não. Eu peguei um ao mesmo tempo que Lael. Não acho que ele reparou, pois estava conversando com Eva. – Ela fez uma pausa. – Ele ficou muito impressionado com ela, não sei por quê.

– Se você quer mesmo fazer isso, é melhor que estejamos longe de Nova Jerusalém. – Eu estava apreensivo. – Aqui a presença do Criador é mais forte.

– Leo – ela tinha um sorriso esperto, como se ela soubesse mais do que eu – a presença do Criador é a mesma em todo Paraíso, de fato, em toda a Criação. Aqui sua luz é mais forte, mas a presença, igual. E se ele me permitiu tirar esse Fruto da árvore, é porque é parte do plano.

Minha mente foi imediatamente para Abraão e Salomon, que ambos, de sua própria maneira, me disseram que o Criador estava ciente de mim, de Týr e de nossa missão para a Morte. Perguntei-me se tudo isso era parte do plano dEle, inclusive o teste de Alexandria.

– De qualquer forma, acho melhor sairmos da cidade primeiro.

Lana levantou as mãos em sinal de desistência, sabendo que não faria diferença. Ela costumava fazer muito isso quando namorávamos, o que podia indicar que eu vencia bastante argumentos ou ela simplesmente desistia de argumentar; de uma maneira ou de outra, isto as vezes me irritava. Não desta vez.

Saí do nosso prédio lotado – mas que por alguma razão mantinha no máximo duas pessoas, costumeiramente casais, por quarto – até a rua. Perguntei para o primeiro anjo que vi, que patrulhava uma das ruas, onde estava Lael, já que nem eu ou Lana sabíamos onde encontrar um feiticeiro cósmico no Paraíso. O anjo apontou para um prédio que ficava alguns quarteirões a frente, mais próximo da cruz tridimensional.

Entrei pela porta da frente sem me preocupar com os dois guardas na porta, que também não pareceram se importar – seja lá o que protegiam ali, era dos Filhos e não das almas. O lugar era pequeno, porém com todos os móveis banhado a ouro ou, pelo menos, com alguns detalhes em dourado – até mesmo um pequeno armário que ficava ao lado de uma escada era feito de madeira lisa e bela, mas as maçanetas e puxadores em de ouro puro.

O corrimão da escada que subia em espiral no centro do prédio também era em dourado. A cada andar havia uma pequena plataforma que ligava o degrau daquela altura com o chão do andar. Sai da escada no terceiro, onde o anjo dissera que Lael estava.

Parei diante da porta no final do corredor ao ouvir vozes vindo de dentro. Consegui distinguir as palavras asa e voar. Estranhando, encostei meu ouvido para tentar entender melhor. Eu não costumava bisbilhotar ou ouvir atrás de portas, no entanto, aquelas palavras chamaram-me atenção.

– ...está pedindo, meu irmão – percebi que o pegara no meio de uma frase – nunca foi feito. Mesmo anjos que perderam permanentemente suas asas – eu pude sentir a tristeza com a qual ele falava; aparentemente, uma das piores coisas que um anjo pode sofrer é ter uma de suas asas cortadas – a Cidade de Prata acima de nossas cabeças possui cinco anjos em sua condição. Não são felizes, mas pelo menos, não buscam maneira de burlar o que aconteceu com eles, pois sabem que é o plano do Senhor.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora