Capítulo 42: Último Acordo

32 7 2
                                    

Escócia, Terra

1489

Amélie despertou assustada, ouvindo vozes que ecoavam por todos os lados. A princípio, ela deduziu que eram apenas dos fantasmas em seu sonho, mas depois de estar completamente desperta, percebeu que o barulho vinha de todo ao seu redor. Levantou-se devagar, sentindo uma dor terrível em seu corpo inteiro. Olhou em volta, procurando pelo dono das vozes; percebeu, entretanto, que não eram de fato sussurros.

Foi lentamente até uma das paredes e encostou seu ouvido nela, fechando os olhos em seguida. O som vinha dali, de dentro, mas de fato não eram palavras. Era mais como o correr de um rio; ela ficou extremamente curiosa para saber o que exatamente estava acontecendo ali.

Através da janela, pela qual havia entrado, viu que a lua já estava alta no céu, o que poderia indicar que a noite estava mais avançada do que ela desejava – ela tinha poucas horas para encontrar a poção que poderia quebrar sua maldição. Comeu um bom pedaço de pão e queijo, descendo tudo com um gole grande de água, apaziguando assim seu estômago.

Abriu a porta lentamente, apenas uma brecha pequena o bastante para ela passar – deixando tudo que carregava na casa de banho – de modo que ela não fizesse muito barulho. O corredor do lado de fora era ainda mais escuro, pois, assim como no cômodo que deixava, a única luz vinha da lua que atravessava um par de janelas que ficava muito alto; ela não conseguia ver muito além de cinco passos à frente.

Felizmente, ela saía pela última porta do corredor. Contou outras dez, olhando uma por uma. Entretanto, todos os cômodos – os que não estavam completamente vazios, pelo menos – tinham os móveis cheios de pó e teias de aranha, além de a madeira ter sido comida por cupins; em um deles ela chegou a encontrar um ninho de corujas com dezenas de esqueletos de rato em volta. Parou na última porta, do lado oposto a primeira; ao abri-la, descobriu uma escada em espiral que subia e descia. Soube imediatamente que noite seria a mais longa de sua vida.

Decidiu ir para baixo, deduzindo corretamente que toda aquela ala do castelo estava abandonada. Caminhou nas sombras, evitando ficar sob a luz da lua, por quase uma hora para chegar à ala oeste do castelo, do lado oposto a praia. Ela podia ouvir o som distante do oceano batendo contra as rochas, quase inaudível. Pelo menos, encontrara um sinal de vida: uma mesa pequena o bastante para ladear uma porta com um caso de flores – vivas – por cima. A ladra sorriu.

Encostou o ouvido na porta de madeira, para tentar ouvir se havia uma pessoa do outro lado, mas nada escutou. Abriu-a lentamente; aparentemente, alguém a vinha mantendo bem lubrificada, pois não fez qualquer barulho. Bisbilhotou pela fresta, descobrindo um hall gigantesco, com uma escada que subia e se dividia em duas – para direita e esquerda – no meio do caminho.

Um tapete belissimamente desenhado com padrões asiáticos estendia-se por quase todo o chão. Detalhes nas paredes, em volta das janelas e em quadros pareciam brilhar em dourado – deviam ser feitas de ouro. Se fosse em qualquer outro dia, Amélie estaria fazendo a festa. Entrou no recinto.

Olhou embaixo das escadas para garantir que as passagens ali estavam vazias de pessoas – ali devia ficar a cozinha, depósitos e quartos, onde os servos do castelo viviam. Subiu pelas escadas, próxima ao corrimão esquerdo; seguiu pela segunda parte da escada por aquele lado.

A ladra assustou-se quando ouviu um barulho vindo daquele andar, do corredor perpendicular ao que estava; não eram passos. Parou na esquina, seu ofegar controlado. Inclinou-se lentamente, espiando. Aquele corredor terminava em outro – paralelo ao que ela estava. Uma luz alaranjada o iluminava fracamente, mas foi o bastante para ela ver algo terrível.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora