Capítulo 21: O Plano de Arango

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Ashkelon, Paraíso

Surgindo graças a ajuda de um Pnamryak também lealmente jurado a Kifo, Arango in'he Ruff sentiu a areia fina da praia de Ashkelon. Assim que seus pés descalços tocaram o solo, ele sentiu o inprint de uma presença que estivera ali meses antes – uma alma diferente, incorruptível. Arango sabia bem quem eram os Heartless e como eles haviam sido vitais na vitória da última batalha em Nova Jerusalém – que resultou na liberdade de Kifo.

Uma vez sozinho, ele caminhou até uma escadaria que subia até um píer, que, por sua vez, era ancoradouro de dezenas de embarcações. Se tinha uma coisa que Arango não gostava sobre ser um Filho do Abismo era a impossibilidade de atravessar os oceanos, navegar sobre as ondas e ganhar o mundo como Ruff, a alma que ele possuía, o fizera em vida – de fato, fora esse amor pela navegação, o qual Arango desenvolveu em seus dias no Paraíso, que ajudou-o a dominar sua verdadeira forma.

Enquanto caminhava pelas pedras da calçada e pelo asfalto já rachado das ruas, ele podia sentir ainda mais inprints, como se fossem fantasmas do passado assombrando aquele lugar. Ele via as almas que habitavam o lugar antes do dia que os Filhos foram libertos; via as surpresas de seus rostos quando as luzes laranjas cruzaram os céus; via o terror quando estas possuíam seus corpos, mesmo que ali tivessem ido apenas os piores Filhos.

O Libertador, Aquele que Está entre o Bem e o Mal, propositalmente mandou todos os Filhos do Abismo que haviam sido apenas parcialmente selados durante a Primeira Guerra Celestial, em outras palavras, aqueles cujos anjos tinham desmembrado ou ferido de alguma maneira que, quando foram selados, estas partes permaneceram no Paraíso e cessaram de existir. Entretanto, ninguém esperava aquela reação.

Assim que as almas daquele lugar foram possuídas, elas tornaram-se animalescas, muito mais do que os Filhos costumeiramente são. O desejo de comer almas – como apenas Kifo o fazia – eram sua principal diretriz, era o que os movia, o que dava propósito. Eram como zumbis – uma palavra terrivelmente feia na opinião de Arango, mas a qual Ruff dizia descrever exatamente os Filhos de Ashkelon.

Apenas Leonard Ross, o Miʻridʻrin, e seus companheiros tinham passado por ali. Desde então, anjos e Filho haviam esquecido das pobres criaturas daquela cidade – e isto era a única coisa que tinham em comum, talvez, exceto, por guerrear no Paraíso. Arango, porém, lembrava-se deles.

A Soulryak, seus outros irmãos de arma e, até mesmo Kifo, duvidaram de seu plano quando o apresentou para eles, todavia, se havia alguém capaz de fazer aquilo, era Arango. Decebal – antigo braço direito de Vizard e atual nada de Kifo – talvez, muito talvez, conseguisse fazer, mas ele duvidava. Afinal, Arango era o Manáryak mais poderoso de todo Paraíso.

Ele viu o primeiro daqueles Filhos surgindo atrás de um comércio – uma antiga lanchonete. A princípio, a criatura parecia confusa, sem saber muito bem o que fazer. Estava suja, coberta de sangue alaranjado, e seus dentes estavam amarelados – provavelmente, uma decadência que a alma sofria por causa do estado deplorável que o Filho estava quando o possuiu. Então, ele avançou como um animal contra Arango, que simplesmente esticou a mão para ele.

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Alexandria, Paraíso

Com a visão ainda turva por causa das lágrimas que chorei por um longo tempo, o qual não fiz questão de contar, eu fechei e dei as costas para a porta que guardava o quarto de Elena. O corredor que antes estava na penumbra agora era iluminado por tochas alaranjadas. Senti uma corrente de ar às costas, virando-me para descobrir que a porta já não estava mais ali. Como Sa'drik informara, a conexão com o Inferno cessou.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora