Capítulo 41: Aline e os Olhos Laranjas

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Lisboa

Perder o carro no meio da viagem foi sem dúvida a pior coisa que poderia acontecer ao grupo de Thais, ao mesmo tempo, sem o veículo, eles foram capazes de atravessar aos feudos – como ela tinha ouvido os próprios Filhos chamando em Badajoz – praticamente sem serem detectados.

A caminhada de dias a fio não foi fácil, apesar de não terem encontrado muito conflito com Filhos nas estradas e cruzar os feudos nas sombras. Foram vistos apenas uma vez, mas eles desapareceram em uma floresta até os Filhos desistirem da caçada e eles estarem livres para continuar a viagem. Apesar de encontrarem no caminho carros e outros meios de transporte, eles optaram pelo silêncio e discrição da caminhada.

Souberam que estavam na cidade quando viram a gigantesca placa indicando que, há poucos metros a direita, o aeroporto de Lisboa, para onde decidiram ir. Sabiam que ali encontrariam boa comida e um lugar seguro – caso não houvesse nenhum Filho instalado ali, é claro – para descansarem antes de seguir viagem para o lugar onde a bússola de ouro na mão de Thais apontava.

Minato foi a frente, enquanto os outros esperavam escondidos atrás de uma SUV amarela. Ele entrou pela porta da frente, que se abriu sozinha – indicando haver eletricidade – e seguiu para dentro da estrutura. O coração de Thais apertou-se, sabendo que seu companheiro dos últimos meses estava correndo um risco enorme para garantir que os outros, principalmente ela, corressem aquele risco. Minutos depois, ele surgiu de volta na porta, sinalizando para que eles entrassem.

O espaço ali era ocupado por malas abandonadas, cadeiras destruídas e chamuscadas, assim como quase todos os objetos presentes. Alguns quiosques de comida e revistas foram completamente destruídos; de alguns sobrou apenas a estruturas. Caminharam pelo corredor até chegarem na área de embarque, passando pelas catracas que a separava da área pública.

Ali, as coisas pareciam mais inteiras. Foram capazes de encontrar alguns bancos intactos e uma lanchonete que ainda tinha em sua geladeira frios e queijos ainda bons para consumo. Thais abriu a geladeira, mas quando levantou os olhos para dizer o que encontrou, notou algo em uma das paredes. Era uma pichação em tinta vermelha; um risco apenas, mas não pertencia ali. Ele destoava o bastante para chamar sua atenção.

Ao olhar em volta, notou mais e mais daquelas marcas. Deixou a lanchonete e andou pelo saguão. De repente, ao combinar quatro linhas diferentes, notou que elas formavam uma palavra: Sol. Confusa, ela andou mais um pouco, correndo as vezes, tentando encontrar mais marcas como aquelas que, aparentemente, faziam palavras e, ela imaginou, frase.

No meio do saguão, diante do décimo segundo portão, havia uma cadeira de ferro, preta e solta do chão, com estofado amarelado, diferente das outras que, presas, eram de alumínio e de estofado vermelho e verde – seguindo as cores da bandeira portuguesa, mesmo que no Paraíso não houvesse um patriotismo tão exagerado. Assim como as pichações, estava fora de lugar o bastante para se destacar, mas ao mesmo tempo, os Filhos não pensariam ser nada além de uma cadeira – e como o lugar estava abandonado, era provável que não entravam ali desde o dia em que cortaram o céu do Paraíso.

Ela subiu na cadeira e olhou em volta. Notou as pichações em diversos lugares, subindo e descendo, nos mais diversos lugares – paredes, janelas, cadeiras, malas abandonadas e muitas outras coisas. Do ângulo em que estava, naquele exato ponto, ela leu: E ver nascer o Sol desse Castelo. Não tinha ideia do que poderia significar, mas assim que leu em voz alta, Desmond informou:

– É parte de um poema. Não sei qual nem sei sobre o que é, mas é claramente um verso. – Ele se justificou, explicando sobre métricas e rimas. – Há uma clara escolha de palavras. Acha que devemos seguir essa pista e ver aonde leva? – Thais pôde ver em seu olhar que ele queria seguir aquela pequena investigação.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora