Capítulo 36: Combate Individual

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Escócia, Terra

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O frio, o cheiro forte de grama capaz de superar todos os outros odores – até mesmo de fezes de cavalo e de semanas e semanas de viagem sem banho ou troca de roupa –, o balançar da carroça, e as curvas e subidas das montanhas das Terras Altas indicavam claramente que eles estavam, finalmente, na Escócia. Amélie amava o país, as paisagens, a cultura e a música. Ele queria poder chamar a Escócia de lar, mas ela não pertencia a ele; de fato, não pertencia a lugar algum.

Chegaram ao topo de um planalto, onde montaram acampamento mais uma vez. O Príncipe Bourdon mandou chamá-la mais uma vez, o que não era um bom sinal. Sem ter escolha, ela seguiu o soldado até a cabana principal – ela chegou a olhar em volta, se perguntando por um momento onde Aiden poderia estar e quanto tempo levaria para salvá-la; já tinham usado Bourdon como tinham planejado. Uma vez dentro da Escócia, poderiam encontrar o castelo sem muitos problemas.

No entanto, ao olhar para o céu e ver as estrelas, ela conseguiu identificar que estavam a pouco mais de oito horas do castelo do Rei James IV. Em outras palavras, Aiden tinha que resgatá-la o mais rápido possível.

Encontrou o príncipe sozinho, nu, preparando um banho quente em uma banheira de madeira. Amélie tinha pena do coitado que fora obrigado a esquentar toda aquela água. Ele depositou alguns sais na água, deixando um cheiro amendoado no ar – que, misturado ao cheiro de grama, embrulhou o estômago da ladra. Todavia, Bourdon não era ruim de forma; não era gordo como a maioria dos monarcas, pelo contrário, ele tinha o corpo malhado de um guerreiro.

– Amanhã nos encontraremos com o Rei James. – Começou a dizer, fitando a mulher. – Quero que você esteja propriamente vestida, com roupas a seu caráter, é claro. – Ele apontou para uma cama que havia do lado oposto a cama que ele mesmo dormia; sobre ela, havia diversas peças de vestuário, todas com algum detalhe em roxo, a cor favorita e costumeiramente associada a Amélie. – Tome um banho, sim. Posso sentir seu fedor daqui.

Bourdon puxou uma cadeira de madeira que estava em um canto, e sentou-se nela. Sinalizou para que Amélie se apressasse e entrasse na banheira, antes que a água esfriasse. A ladra respirou fundo, sabendo que não conseguiria resistir a oportunidade de ter sua pele limpa. Por isso, tirou toda sua roupa; assim que Bourdon viu as marcas de sua maldição, ele recuou, vestiu um roupão de seda que encontrou e deixou-a sozinha. Amélie sorriu, ao mesmo tempo torcendo para que ele não perguntasse.

– Você jantará conosco e depois dormirá em minha tenda. – Bourdon informou, enquanto ela dava o último nó na bota de cano alto que o príncipe tinha provido para ela. – Claro que ficará sob vigia o tempo inteiro.

Quase como se tivesse sido chamado, um homem entrou na tenta. Para sua surpresa, ele não designou um brutamontes, mas sim um homem normal. Jovem demais, até, mas normal. Ele tinha a mesma idade de Amélie, talvez um pouco menos; seus olhos eram azuis e tristes, enquanto seu cabelo era de um castanho claro. Sua pele era avermelhada por causa do sol. De lábios finos e nariz adunco, ele praticamente não movia um músculo sem a permissão de Bourdon.

Ele serviu de sombra para Amélie enquanto caminhavam pelo acampamento. Quatro mesas compridas haviam sido montadas em volta de um espaço aberto. Assim que o Príncipe Bourdon surgiu, todos os presentes se levantaram e apenas voltaram a sentar quando ele o fez. Não demorou muito para que comida e bebida fossem servidos e o entretenimento começasse.

Dois homens, quem ela reconheceu da carroça-prisão, foram arrastados para o centro do espaço. Os soldados gritavam de excitação e alegria – provinda, é claro, de todo álcool que vinham bebendo desde antes da chegada de Bourdon. Alguns gritavam apostas, dizendo quem achavam que iria vencer aquele combate.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora