Capítulo 24: A Ladra de Reis

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Itália, Terra

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Amélie abriu um sorriso largo e superior assim que colocou a tiara em mãos. Feita de prata, com detalhes em ouro rosa e encrustada de diamantes; o principal, que ficava no centro da peça, era um diamante rosado raro e com quase cinco centímetros de altura por dois de largura, talhado mais ou menos no formado de uma lança.

Aquela maravilhosa peça havia sido feita sob medida para a Duquesa de Albanesi, uma jovem viúva de vinte e três anos. Ninguém tinha uma informação concreta sobre quem tinha mandado fazer ou presenteá-la com a tiara, mas Amélie sabia muito bem que o Rei Henry VII da Inglaterra era apaixonado pela duquesa desde que ela visitou a corte real alguns anos antes.

A ladra colocou-a sobre sua cabeça, puxando um espelho de sua bolsa para ver-se com ela. Amélie adorava o status, riqueza e poder que peças como aquela davam – já havia provado sua quantidade de coroas nos reinos da Europa e da Ásia. No entanto, ela sabia que ela não pertencia àquele mundo. Ela era apenas uma ladra, sobrevivendo nas sombras da sociedade, sem nunca saber o que comeria no dia seguinte. Isto é, até aquele roubo.

Tirou a tiara e enrolou em um pano, depositando-a dentro de sua bolsa, que ficava na lateral de seu corpo, na altura da cintura. Ela pensava apenas no valor em ouro que receberia por aquela tiara; e seus compradores esperam por ela do outro lado da fronteira com a França.

Ouviu passos e o bater de metal contra metal das armaduras dos guardas vindos de trás da única porta da sala de tesouro, indicando que era o momento de partir. Foi até a corda que havia pendurado na janela, parou para pegar dois saquinhos com moedas de ouro e jogá-los dentro de sua bolsa – um extra não faria mal. Escalou a corda sem problemas, ela havia feito aquilo milhares de vezes.

Assim que estava na altura da janela, com uma perna do lado de fora e outra dentro, os guardas entraram pela porta; lanças e espadas em mãos. Dos cinco, dois tinham bestas nas mãos. Olharam para Amélie, que piscou com olho esquerdo, saltando para fora; ela ouviu as setas atingindo a parede por dentro enquanto ela descia por outra corda do lado fora.

Amélie caminhou despreocupadamente até a floresta que cercava o castelo – pequeno até, em comparação a outros espalhados pela Europa. Apenas quando amanheceu foi que ela parou de andar. Fez uma pequena fogueira, na qual assou seu último pedaço de coelho que tinha na bolsa; depois de comer, forrou um pano no chão, sobre uma porção de grama seca e deitou-se para dormir.

Despertou no meio da tarde. Enrolou seu pano, sentindo a dor nas costas por ter dormido no chão, e voltou a caminhar. Não demorou muito para encontrar o pasto onde havia deixado seu cavalo; assoviou alto para que Giuseppe viesse até ela. Então, virou-se para encontrar embaixo de uma árvore a cela que tinha deixado ali, assim, ele ficaria mais solto para pastar e matar sua fome.

Giuseppe veio correndo na direção dela, descendo uma colina a cavalgadas rápidas. Amélie ficou feliz em ver seu velho amigo outra vez – mesmo que tivessem separados por apenas um dia. O cavalo fora o último presente de seu pai, que morrera a serviço do Rei da França; Amélie tinha apenas doze anos na época. Nós dez anos seguintes, ela e Giuseppe tinham se tornado amigos inseparáveis.

Depois de colocar a sela e montar, Amélie cavalgou pelas planícies, que poderiam ser a fazenda de algum lorde qualquer, talvez pertencente até mesmo a própria duquesa, mas ela não se importava. Depois do primeiro dia, passando muita fome, ela encontrou uma pequena cabana construída a beira de uma floresta. Tinha apenas uma porta, mas nenhuma janela. No teto, uma pequena chaminé soltava uma leve fumaça branca, indicando não apenas que alguém vivia ali, mas que o almoço tinha acabado de ser preparado.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora