Capítulo 27: Banco dos Irmãos Warty

37 9 0
                                    

Palos de la Frontera, Terra

1489

– Fiquem com o tesouro. – Ela sussurrou para os companheiros; não era exatamente a melhor ideia falar em voz alta naquela cidade que uma carroça com quilos e quilos de ouro está no meio da rua. – Eu irei garantir que ele fique seguro.

Os dois concordaram, afinal, era ela quem corria o risco maior, já que eles poderiam fugir com todo o ouro; no entanto, Amélie sabia que eles não o fariam, ou a teriam matado nos dias que passaram na estrada e ninguém sentiria falta.

O Ouriço Azul tinha o mesmo cheiro de mijo e álcool que Amélie se lembrava. Apesar dos rostos serem diferentes, eram o mesmo tipo de pessoas que frequentavam o lugar. Ladrões, contrabandistas, assassinos, piratas e, até mesmo, marinheiros, mas nenhum deles que estava ali tinha um bom caráter, não importava de que lado da lei estava.

Mais importante do que isso, o Ouriço, como era chamado o homem que cuidava do bar, estava em seu posto de sempre, atrás do balcão, com um pano sujo limpando copos ainda mais nojentos. Ela sentiu falta daqueles copos manchados. O Ouriço abriu um sorriso assim que a viu. Sentou-se em um dos bancos do balcão e, sem que ela pedisse ou ele dissesse qualquer coisa, serviu um copo de cerveja para ela; Amélie bebeu sem hesitar.

– Já faz muito tempo que não te vejo, não? – Ele disse, pegando outro copo para limpá-lo.

– Seis meses, três semanas e cinco dias. Ele está aqui? – Amélie não olhou para os lados, sabendo que se encarasse a pessoa errada, aquele lugar seria destruído em uma briga.

– Não, mas espero que ele volte hoje mesmo. – O Ouriço disse. – Trouxe algo?

Ela apenas confirmou com a cabeça, enquanto o barman gesticulou com a cabeça para direita. Amélie o acompanhou até o fim do balcão, onde havia uma porta pela qual entraram. Contou rapidamente sobre o roubo e sobre o pagamento, dizendo que tinha que abrir mais três contas.

Saíram por uma porta dos fundos que levava para um beco entre o Ouriço Azul e um bordel – ali, eles jogavam os excrementos dos baldes que os clientes de ambos estabelecimentos enchiam, o que significava que, tirando um mendigo ou outro que não tinha lugar melhor para ir, as pessoas evitavam entrar ali. De onde estava, ela podia ver a ponta de sua carroça; Aloin estava ali, vigiando.

O Ouriço deu três passos da saída e bateu três vezes na parede de sua taverna. A pedra emitiu um fraco brilho ouro-esverdeado e tornou-se uma pequena porta, com não mais do que cinquenta centímetros de altura. Por ela, saiu um homenzinho ainda menor, usando uma roupa de panos finos – como os da realeza – verde e dourado, principalmente, mas tinha alguns pontos em prata também. Amélie sabia que, além do verde, o resto era feito com fio de ouro e prata

Vindo da Irlanda, o pequeno leprechaun viera para Espanha em busca da oportunidade de cuidar de seu próprio banco de ouro, já que no seu país de origem, eles eram tantos que muitos nem ao menos tinham uma moeda de ouro sob seus cuidados. Muitos estavam fazendo como ele; alguns até mesmo já tinham chegado na Ásia e trabalharam para os grandes Imperadores e Reis.

– Olá, Warty. – Ela disse, sorrindo para a criaturinha. Ele, no entanto, não retribuiu em sua seriedade inglesa; uma das grandes vontades de Amélie era fazê-lo mostrar os dentes.

– Assumo que aqueles brutamontes com todo seu ouro estão trabalhando para você, senhorita Champoudry. E ouvi que precisaram de cofres também. – Ele revirou os olhos. – Metade seu e a outra metade dividida entre os três?

– Você me conhece tão bem. – Amélie disse, com o tom de uma mulher apaixonada. – Se você fosse um metro e meio mais alto, poderia fazer um estrago em mim. – O leprechaun nem ao menos moveu os lábios.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora