Capítulo 35: O Baú das Canções

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Quando Thais acordou, não tinha certeza de quanto tempo estivera em coma. Não reconheceu seus arredores, mas tinha a sensação de que não estava mais na comunidade no Brasil – as paredes estavam muito destruídas, abandonadas, em comparação ao cuidado que as almas de lá tinham com sua morada. Sentou-se na cama devagar, para evitar tontura.

Sentiu um fisgar em seu ombro, o que a fez jogar a blusa de lado e ver seu ferimento. Estava coberto com um curativo quase limpo, o que indicava não ter sido feito há muito tempo. Saiu do pequeno quarto, dando de cara com um homem completamente desconhecido sentado em uma cadeira ao lado de sua porta, servindo de guarda.

De pele morena e nariz adunco, ele parecia bastante com Aladdin, do desenho da Disney. Seu olhar castanho escuro estava focado em uma história em quadrinhos que lia antes de Thais sair. Ele se levantou de susto, apresentando-se como Dean Brown, ou Ezra, com ela preferisse, mas todas as almas do Paraíso o chamavam de Dean – Thais notou que ele tagarelava quando estava nervoso.

– E Desmond, Minato e Jared? – Ela perguntou. – Melhor ainda, onde estamos? – Thais olhou para sua mão; a bússola dourada apontava para algum lugar a esquerda.

– Estão lá embaixo. – Ele respondeu, com um sorriso tímido. – Em Córdoba, na Espanha.

Thais coçou o queixo, pensativa. Não estavam muito longe de Amélie. Com Dean logo na sua frente, bastava apenas ela para os escolhidos da Morte estarem completos.

– Alguém te deu um pedaço de fruta para comer? – Ele claramente estranhou a pergunta, mas disse:

– Sim. Desmond. – Pelo menos, ele já estava ciente do passado e do acordo que ele fizera com a Morte; Thais ficou curiosa para saber sua história, mas era uma conversa para viagem.

Como se tivesse sido convocado, Desmond surgiu no topo da escada que ficava à direita de Thais. Ele explicou como tinham chegado ali, sobre uma mulher chamada Ahsoka e, feiticeira como era, foi capaz de ajudar Thais e seu estranho ferimento. Todavia, a mulher partiu logo depois de curá-la, pois tinha uma missão importante pela frente.

– Assim como nós. – Thais completou. – Preparou algo?

– Sim, mantimentos e um veículo, que nesse ponto é uma pick-up, já que somos em cinco. – Havia certo sarcasmo na voz de Desmond. – Todavia, ainda temos que decidir a rota.

Thais estranhou, afinal, Desmond era o mais inteligente de todos eles. Se alguém era capaz de descobrir o melhor caminho até Portugal, onde estava Amélie naquele momento, era ele. Ainda assim, ela seguiu-o até o andar de baixo, com Dean logo atrás dos dois.

O lugar havia sido transformado em uma sala de guerra, com as paredes repletas de mapas da Europa com pontos em vermelho, o que indicava pequenas colônias de Filhos. Sobre uma mesa redonda central, havia um mapa da Espanha e Portugal. Minato e Jared, calados, esperavam por Desmond – estes dois, Thais sabia bem, não era do tipo que tomavam a iniciativa ou discutiam liderança, mas sabiam obedecer quase cegamente, principalmente Minato.

– De acordo com Ahsoka – Desmond começou a falar, apontando para o mapa – os Filhos têm barricadas nas estradas principais daqui até Badajoz, que é uma colônia bem estabelecida de Filhos na região.

– Não podemos usar essa estrada? – Thais perguntou, apontando para um caminho sem nome e claramente mais longo, contudo, supostamente mais seguro.

– Foi o que pensei. Mas teremos que ficar de olho em batedores ou patrulhas de Filhos. – Desmond concluiu.

Thais olhou pela janela da casa, vendo que a luz estava começando a baixar.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora