Capítulo 32: Carta do Demônio

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Desmond, com Thais em seus braços, surgiu de repente; do nada, como se estivessem ali o tempo inteiro, porém invisíveis até então. Ahsoka não se assustou. Ela sabia que em algum momento Desmond viria até ela, apenas não imaginava que seria em um momento tão difícil para Thais. Rapidamente, ela disse para colocá-la em uma cama que havia no recinto – pertencia a ela própria.

Ahsoka já vira muitas e muitas vezes almas sendo machucadas pelos Filhos e por seu poder que vem do Abismo, todavia, o que acontecia com Thais era diferente de tudo que já vira. Uma alma não possui corpo, mas assim como Desmond, Thais o tinha; mas ainda, não poderia ser este o motivo, pois o próprio Desmond fora ferido durante o caminho de Nova York até Fernando de Noronha e tal reação não acontecera.

A feiticeira pegou de uma maleta de couro que estava sempre por perto quando ela estava viajando. O couro guardava diversos pequenos objetos que tinham vindos dos mais aleatórios lugares dos mundos. Pegou um pedaço de kluth, uma espécie de capacete de metal que os crvena – um povo bárbaro da ilha de Rak'ith, em Khali – usavam para guerrear contra os prava. Aquele em particular pertencera a Ko'goth, um rei que governara alguns séculos antes.

Desenhado no metal havia diversos símbolos da cultura rak'ith'i, os quais ela não sabia ler com fluência, mas conhecia aqueles que estavam escritos ali, cujo significado era "estrelas". Assim como ela, e poucos outros, Ko'goth fora capaz de conjurar poder das estrelas e dos cosmos.

Voltou para Thais e colocou o objeto sobre seu peito, acima do coração. Não demorou muito para ver os efeitos, com o pedaço de metal brilhando num tom de verde-claro. Ahsoka soube imediatamente o que acontecia.

– A magia dela está afetando o ferimento. – Tentou explicar. – É como se fosse uma doença autoimune, quando o sistema imunológico ataca células boas pensando se tratar de células ruins como se corpo estranho. A magia dela está tentando lutar contra o poder do Abismo, mas ao mesmo tempo...

– Está atacando o que ela tem de saudável. – Desmond completou; ele não era médico, mas compreendia a lógica do que Ahsoka dizia. – A questão é: pode ajudá-la?

– Talvez. – Ela olhava em sua bolsa, procurando por algo.

Ahsoka finalmente tirou uma moeda parecida com a que ela tinha dado para ele, mas não parou de procurar. O som de metal batendo contra metal podia ser ouvido enquanto ela caçava por mais moedas. Com mais de seiscentos anos de idade, aquelas moedas haviam sido forjadas na Índia, tendo um lado o deus Brahma e do outro uma representação de Plutão.

Virou-se para colocar uma moeda sobre cada um de seus olhos. A terceira ela colocou sobre seu ferimento. Então, esticou a mão esquerda para Desmond que, um pouco confuso, tomou-a com a sua direita.

– Eu vou usar parte de sua energia, o que pode ser extremamente perigoso, mas é a única opção que temos, considerando que vocês são únicos no Paraíso: almas mortas, corpos vivos. – Ahsoka explicou. – Será mais ou menos como uma transfusão de sangue.

Em seguida, ela passou a entoar um canto. As palavras deste não faziam parte do feitiço que permitia a conversa entre as almas do Paraíso, o que significava que Desmond não poderia entender. Tais palavras eram em lemekin, um dialeto que desapareceu de Lemúria muito antes do próprio continente.

Contavam uma pequena e simples história sobre um fazendeiro que, depois de perder-se em uma floresta faz um acordo com um ser que mora ali para poder voltar para casa. Em troca da saída, ele terá que dar a primeira coisa que ver quando voltar para casa. Infelizmente, sua filha mais nova, a mais bela de três, vem encontrá-lo no portão. De bom grado, para que seu pai não perca a honra em sua palavra, ela vai com o ser da floresta, para nunca mais ser vista.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora