Capítulo 09: Sombrio

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Creta, Grécia

– Eu realmente acabei de sobreviver a um combate contra Kifo? – Eu perguntei para Týr, enquanto empurrávamos a maca de Lael de volta para o quarto.

– Bem, eu acho que ele estava pegando leve com você. – Týr retrucou, com um sorriso zombeteiro; eu sabia que ela estava tentando zombar de mim, mas preferi ignorar. – Ele sempre lutou muito mais velozmente contra Miguel e os anjos.

– De qualquer forma, eu não deveria escapar. Mas essa espada... – Ela estava recostada a uma das paredes do quarto, um pouco longe de mim; eu estava meio receoso de empunhá-la. – A mesma coisa aconteceu durante a Batalha de Roma, lembra? Aquela Louryak, Selena ou Selene, não lembro direito. Ela também queimou quando pegou a espada e tentou quebrá-la.

– Tem razão. – Týr, agora sentada no braço do sofá ao meu lado, levantou-se; andando de um lado para o outro.

– Cuidado para não furar o estofado.

– Cala a boca, animal. – Retrucou, sarcástica, pisando agora mais pesadamente. – Eu sempre achei estranho que uma costureira aleatória, de Tel-Aviv diga-se de passagem, tinha uma espada a nossa disposição.

– Acha que alguém possa ter implantado a espada lá? – Perguntei.

– É possível. Talvez a Morte mesmo.

– Se fosse, por que ele não falaria nada em todas as vezes que nos encontramos? Não faz sentido. – Argumentei; a fada pareceu concordar comigo, porém acrescentou:

– A Morte é um ser estranho, Leo. Talvez não tenha visto o sentido de falar algo. É como os escolhidos. Ele apenas disse para nós que tínhamos que encontrá-los quando foi preciso. Isso vale para a adaga que estamos buscando agora. Você já tinha a espada quando nós fomos até o Castelo. Não deve ter visto a necessidade de falar.

Eu entendia bem a lógica de Týr, mas ao mesmo tempo, ela descia quadrada por minha garganta. Algo ainda não estava se encaixando.

O despertar de Lael interrompeu nossos argumentos. Ele grunhiu de dor, tentando se sentar. Antes que eu pudesse chegar perto dele para impedi-lo, ele notou que estava sem uma de suas asas. Desesperado pela descoberta, ele começou a bater sua única asa descontroladamente, jogando os livros, criado mudo, travesseiro e tudo o mais que estava próximo o bastante para o chão. Eu não consegui me aproximar, mas repeti diversas vezes para que se acalma-se.

Týr deu de ombros e revirou os olhos, voando para fora do quarto. Eu entendia sua reação, afinal, não havia enfermeiros no hospital para segurá-lo, muito menos um médico para injetar um calmante em sua veia – se é que esse procedimento funcionaria, afinal, ele era um anjo.

– LAEL! – Eu gritei com toda a força de meus pulmões, finalmente pareci chamar sua atenção. – Que droga, cara. Eu sei que é uma bosta perder um membro do corpo, mas você precisa se acalmar. – Percebi que ele, aos poucos, ia desacelerando sua respiração; sua asa, aos poucos, se retraindo até ficar na posição original.

– Onde... – Sua voz mal saiu, raspando sua garganta; eu não conseguia imaginar que eles também precisavam beber água como os humanos, ao mesmo tempo, poderia ser por causa de sua condição fragilizada. Eu corri para pegar um copo de água na cozinha. – Onde estamos?

– Creta.

– É, eu realmente não intencionei nos trazer para cá. – Ele informou, bebendo mais do líquido. – Estamos seguros?

– Por enquanto. – Então, narrei para ele os encontros que tivemos, inclusive com Kifo; ele estranhou tanto quanto nós a reação da espada, mas tinha a menor ideia de como explicar o fenômeno. – Mas acho que Kifo voltará logo. Ele não parece ser do tipo que queima vivo e deixa barato.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora