Capítulo 37: Ahsoka

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Istambul, Paraíso

Atingimos a cidade de Istambul no meio da manhã. Depois do combate contra Kokuou – como chamava o Heyroryak que nos atacara na Síria, de acordo com Caleb e Vizard – não cruzamos com nenhum inimigo. Eu sabia que a região havia sido liberada pelos anjos, mas eu esperava alguma resistência, mesmo que pequena, mas nada.

Para nossa surpresa, uma fileira de Filhos do Abismo atravessando o portão, saindo de dentro da cidade. Olhei para Lael, que não parecia ciente do que acontecia. Não parecia que a cidade havia sido invadida – não havia fumaça ou qualquer sinal de combate. Além de que alguns anjos formavam um corredor, com suas espadas brilhando em chamas celestiais.

Escondidos em apartamento a cerca de três metros e cinco andares de distância, nós esperamos que o grupo passasse e desaparecesse no horizonte, em direção ao Leste – eu imaginei que iam para o mesmo lugar que os debandados de Kane foram após a batalha contra ele e suas forças. Týr deduziu que Kifo, aproveitando o grande número de Filhos na região, criou uma base na região; tentei me lembrar do mapa dos anjos, mas não consegui pensar no ponto exato.

Levou até o meio-dia para o caminho ficar livre de Filhos. Esperamos que eles ficassem fora de vista, pois assim saberíamos que nós estávamos longe da vista deles. Paramos diante do portão, mas apenas quando Lael mostrou sua espada de Fogo Celestial que eles deixaram-nos subir – aparentemente, nem todos os anjos sabiam do que havia acontecido com nosso anjo companheiro.

Notei que muitas pessoas na cidade pareciam um pouco perdidas, sem saber muito bem para onde iam ou não. Alguns anjos davam ordens, organizando as almas em vários prédios diferentes, alguns vazios e outros nem tanto – afinal, a cidade estava ocupada antes da guerra; novas almas adicionas precisavam ser hospedadas nos lugares mais diversos, como escolas, hospitais e outros prédios vazios.

Um par de arcanjos nos guiou entre esses novos refugiados, explicando que eles aceitaram a passagem dos Filhos pela cidade em troca de mais de cem mil almas. Eu os observava, pensando no quanto aquilo era contraditório com a própria essência do Paraíso, que deveria ser livre de qualquer malícia ou sofrimento, mas aquelas almas estavam claramente sofrendo – algo muito pior do que as almas que escolheram ficar no Éden, mas com as memórias de sua vida na Terra.

Estavam sujos, com as roupas rasgadas, alguns estavam enrolados em cobertas dadas pelos anjos ou por outras almas, que tentavam ajudá-los. Estas ofereciam suas próprias casas para hospedar os recém-chegados com um sorriso no rosto – ou pelo menos, o melhor que conseguiam diante daquela situação. Notei uma alma que entregava um prato de comida quente para outra. Não era muito diferente da Terra, pois mesmo lá as pessoas se comoviam com refugiados de guerra.

Em meio a um jardim belíssimo, com árvores verdes altas e baixas, subiam ao céu seis torres finas com esferas a cada metro; a ponta era triangulas, como um cone de sorvete, lembrando um lápis. Entre elas, um prédio em três níveis, com tetos arredondados de cúpulas.

Quando estava vivo, eu já tinha visto algumas fotos da Mesquita Azul, principalmente na aula de História do Mundo com o Professos Sylos – que deixara o cargo no meio do meu Segundo Ano do Colégio, mas que ninguém sabia para onde ele tinha ido. Confesso que nunca tive muita vontade de ir ali, Elena também não tinha, por isso nunca consideramos; mas agora que estava ali, eu sabia que me arrependeria de não ir.

Cruzamos um arco para dentro de uma praça quadrada, onde algumas almas se instalavam e outras pareciam estar ali há algum tempo. Tivemos que desviar de algumas crianças que corriam uma trás das outras, como se não houvesse guerra do lado de fora daqueles muros – só poderiam ser almas Nascidas no Paraíso, ou não teriam aquela inocência.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora