Capítulo 38: Deteriorado

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Áustria, Terra

Amarwen não tinha certeza quanto tempo tinha passado perdido naquela floresta e montanha. Dias, meses, ele não sabia dizer; sabia, porém, que Kifo jamais perdoaria o atraso que Amarwen tinha causado. Ele tentou seguir as estrelas, tentou voltar, seguir a luz – que aqui chamavam de sol –, mas ele a não encontrava a saída da floresta, perdendo-se mais vezes do que podia contar; andando em círculos.

A pior parte, porém, é que seu corpo começou a desejar água e comida, como se ele fosse um frágil humano; ele não tinha exatamente certeza quanto tempo atrás ele teve que comer um coelho – as memórias de Luke foram úteis para aprender a assar a carne ao invés de comê-la crua. Em algum momento, ele bebeu água de um riacho que encontrou.

Ele caiu uma rua de fábricas quando o sol já tinha se posto. Não havia ninguém ali, nem mesmo o carro de um trabalhador voltando para casa. O Filho continuou caminhando, até conseguir encontrar um orelhão – Luke tinha pouco conhecimento sobre aquilo, mas tinha uma noção de como funcionava. Ele discou o número de telefone que Nepherety tinha dado para ele antes de deixar a Índia.

– Isto não me surpreende. – Nepherety disse do outro lado da linha quase uma hora depois de ele ter discado o número. Amarwen já havia narrado os combates. – Até que demorou para os anjos ou as centenas de defensores da Terra para interferirem. De qualquer forma, você está com sorte. Conheço alguém que pode hackear o tablet e descobrir a localização do disco, apesar de que você demorou muito. Eles já devem ter mudado de lugar. Bem, isso não é meu problema, e sim seu. Um amigo meu está indo te ajudar.

– Se você tem amigos, por que mandar-me encontrar esse tal disco? – Amarwen bufou, irritado; queria estar de volta em Dalhi para matar a mulher ele mesmo.

– Porque ele não tem nem mesmo uma fração do seu poder. Ele só é bom para me ajudar a ir de um lugar a outro. – Ela retrucou, cheia de si mesma.

Um círculo amarelo, feito de faíscas, surgiu a sua frente assim que Amarwen colocou o telefone no gancho. Dele saiu um rapaz quase da mesma idade de Luke quando este veio a falecer. Apresentou-se como , Max para encurtar; ele falava a mesma língua de Luke, o que facilitou a comunicação, no entanto ele tinha um claro sotaque.

Apesar dos radiantes olhos azuis e o cabelo raspado, o que mais chamou a atenção de Amarwen foi o braço direito, tendo apenas metade do tamanho; ele havia sido amputado um pouco acima da altura do cotovelo. Max esticou esse braço para Amarwen, que ficou sério, sem saber o que fazer.

– Desculpe. Faz pouco tempo que perdi o braço. Ainda sinto como se estivesse ali. – Ele acrescentou, constrangido, coçando a parte de trás da cabeça com a mão esquerda.

– Não precisa ter vergonha das suas cicatrizes de combate, humano. – Amarwen disse.

– Eu queria ter perdido o braço em uma batalha. – Max riu, ainda constrangido. Em seguida, confirmou o que Nepherety havia solicitado e, sorrindo, completou: – Então, vamos.

Outra vez o portal surgiu. Eles cruzaram para o quintal gramado de uma casa. O clima estava gelado, forçando Max a conjurar um casaco; Amarwen, apesar de sentir a queda na temperatura, não sentia frio de fato devido ao seu calor natural. A casa era pequena, com uma varanda frontal pequena, uma janela à direita e duas no andar superior. Um dia, ela fora azul, mas agora tinha apenas uma lembrança da cor.

Max foi até a porta com confiança, como se já estivesse estado ali várias e várias vezes. Tocou a campainha e esperou. O rapaz do outro lado era da mesma idade, o que fez Amarwen duvidar de suas habilidades – entretanto, ele podia imaginar como Nepherety havia consigo que eles trabalhassem para ela. Ele não se assustou ao ver os olhos do Filho, o que o fez se perguntar o que o jovem já tinha visto em sua vida.

Afterlife: AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora