O canto dos pássaros

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Passou-se horas e dias e semanas, desde o ocorrido. Órion basicamente sumiu durante todo esse tempo, sem deixar sua energia amostra ou cometido algum deslize para que eu o achasse. Pensara o que tivera acontecido com ele, sempre se manteve perto bagunçando minha vida ou meus sentimentos, mantinha-se distante me vigiando, mas sempre próximo o suficiente para garantir minha segurança (como se precisasse dele para isso) ou achar algo que fosse inflar seu ego. Porém, dessa vez, desapareceu completamente, sem deixar rastros. Sua ausência me corroía de forma dolorida demais. O imã que nos puxava, continuava efetuando seu papel, mas deixando lacunas. Como unir alguém que não se mostra visível?

Tentei de todas os jeitos o encontrar, meditando, rastreando e até mesmo achando um modo de usar nossa ligação à meu favor, mas tudo foi um grande fracasso, não importava o quanto me desgastasse no processo ou o risco que corresse em revelar minha localização, nada adiantou. Cheguei perguntar sobre seu irmão para Irion, mas o mesmo dizia que não sabia onde o garoto se achava, sua dimensão estava completamente trancada, de dentro pra fora, impedindo todo tipo de acesso. Felizmente, com o tempo passado, a dor se tornou tolerável, mesmo que com cada instante longe de meu predestinado, a sensação da morte me acompanhasse. Ele não queria ser encontrado e eu respeitaria sua decisão, por mais difícil que fosse.

Depois de um longo dia cansativo, me encontrava no quarto. Caminhando para o banho, lembranças tomaram minha visão. Enquanto a água quente escorria pelo meu corpo, podia sentir nitidamente o toque provocativo de Órion em meu corpo, seu beijo incessante, sua respiração ofegante em meu ouvido, todos esses sentimentos me sufocavam. Por mais que não o quisesse perto e tivesse conhecimento que sua atitude, pela primeira vez, foi a certa, minh'alma sangrava e cada músculo se contraía ao ponto de me causar dores infernais. A saudade se tornou algo comum em meu dia, mesmo lutando para não senti-la. A água intensificava meus sentidos, fluía em minha pele se fundindo com as lágrimas que deslizavam em minha face.

Me sentando no chão e abrigando meus joelhos próximos de meu seio, me entrego totalmente às emoções que há dias me surravam.

–Por que você foi embora? –Murmurei com a voz embargada.

O barulho da água ao cair no chão, ocultava meus soluços constantes. Sua ausência, era como sentir um vazio se abrir abaixo de mim. Me via caindo em um abismo sem fim, me deixando apavorada e desesperada. Um dia acharia o fim desse buraco devastador? Encontraria o chão que uma vez perdi? Me sentia uma verdadeira imbecil por estar assim, tendo uma crise de choro por uma decisão que salvaria nós dois. Uma coisa que tanto briguei com Órion, gritando, implorando para que sumisse de minha vida, e quando assim o fez, tudo desmoronou. Pensei com sua presença, minha vida ia de mal a pior, agora percebo que nunca me achei tão equivocada. O garoto era o que eu sempre precisei, uma dose de loucura e adrenalina, algo que me tirasse o fôlego e me desafiasse a romper minhas barreiras. Por mais que esquadrinhasse todo o Cosmos e o conhecesse por completo, com ele, descobria partes obscuras e sentimentos que até então, eram inexistentes.

Irion era um rapaz bom, mas infelizmente, não era meu. Poderia, seu irmão me deu a oportunidade de bandeja. Foi embora, me deixando ficar livremente com meu noivo e viver a vida que escolhi para mim. Mas com essa angústia em meu peito, nada disso valia mais a pena, se isso significasse perdê-lo.

Independente do que sentisse, já era. A chance veio e a desperdicei de maneira tola, fugindo apavorada de algo já determinado. Sabia que cedo ou tarde nos veríamos novamente, o que é destinado à você, uma hora ou outra, encontra o caminho até você. Porém, o que faria enquanto isso? Como sobreviveria à tudo que sentia a cada segundo? A obrigação de fingir que estava tudo bem, que foi um livramento, me deixava na beira do limite.

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