Órion

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Ouço uma voz vir dos Pinheiros que localizara ao redor da lagoa. Meu local preferido não era misterioso atoa. O descobri por um acaso. Lembrei-me rapidamente do dia em que o encontrei; estava fugindo de Mikael, o que não foi nada agradável. Eu, sem querer querendo, invadi seu quarto a procura dele, naquele dia, uns momentos antes, tive uns contratempos com meu irmão e procurava-o para conversar. Andei o castelo inteiro, perguntei a todos que encontrara em meu caminho, mas ninguém sabia o paradeiro do Príncipe. Em minha ingenuidade, enganei os guardas que protegiam seu quarto, e entrei.

O que eu procurava? Sinceramente, só tinha uma leve esperança de vê-lo ali, dormindo ou qualquer outra coisa, o medo de perdê-lo estava me consumindo.

E se alguém o sequestrou?
E se papai morreu por algum espião?
E se ele me abandonou?

Não me culpe por pensamentos tão vãos, eu tinha 10 anos, dizia para mim mesma.

O medo parou de me consumir quando vi sua espada, a espada que ele JAMAIS deixara, apoiada em sua cama. Ela reluzia seu poder, sentia-a me chamando.

Lembro-me que quando a peguei, os guardas entraram no quarto ferozmente. Eles me cercavam de todos os lados, gritavam para que deixasse a espada de papai onde encontrei. O que eles esperavam que eu fizesse? Roubasse a espada de meu próprio pai? De qualquer modo, o quarto dele era área restrita para mim.

Sob pressão e com medo de papai descobrir, o que era inevitável, pulei da sacada. Quebrei alguns ossos naquele dia, não sabia bem o que era voar.

Foi então que afundada no meio da floresta, encontrei ela, meu lugarzinho de paz.

-Atrapalho algo, senhorita? –Dizia aquela voz misteriosa novamente saindo das sombras.

A voz do sujeito era uma perfeita sinfonia em meus ouvidos. Tal ponto, de fazerem toda parte de meu corpo se arrepiar, como em um toque intimo.

A aparência do jovem rapaz se revelava a medida que caminhara em minha direção. Seus cabelos negros dançavam com o vento, seus olhos esmeraldas despiam minh'alma, lentamente. Era a pessoa mais bela que já vi em toda minha existência.

Mesmo sendo a própria beleza encarnada, quem dara o direito de me espionar?

–Está louco, garoto?  Saia daqui imediatamente! –Dizia enquanto cobria meu corpo com meus braços. A agua cristaliza era minha pior inimiga naquela hora, nunca desejei estar em um pântano, mas naquele instante, até que a água suja não seria inconveniente.

Um sorriso malicioso cobre o rosto do rapaz.

Estranhamente o sujeito me causara um misto de sensações nunca sentidas antes. Quer dizer, ele praticamente estava me vendo nua, a herdeira de Lyra, totalmente indecente. Eu deveria estar furiosa ou no mínimo envergonhada, mas a sensação que sentia no momento, era êxtase. Sabe quando você está procurando algo por muito, muito, muuuito tempo? E finalmente acha? Quando percebe que o que você sempre imaginou é melhor na realidade? A emoção de passar em uma prova? De realizar seu sonho? Era isso que sentia. Mas por quê? Forcei-me a sentir algo racional, raiva, angústia, vergonha. Algo que fosse justificável.

-Eu não estou brincando com você, imbecil! Sabe quem sou? Se meu pai descobrir que anda espionando sua filha, suas asas virarão enfeite em seu quarto. –Esbravejei.

Um fogo avassalador me consumia conforme seu olhar cada vez mais dominava os meus.  Me sentia jogada em uma fogueira. Minha pele queimava, meu corpo reagia ao dele, ressoava. Sentia todo meu âmago gritando por algo que era irreal. Quando o vento voltou a dançar, trouxe até mim seu cheiro. Fui mandada rapidamente pra algum tipo de visão. Me via sentada em uma janela, ouvindo prazerosamente o barulho da chuva e sentindo o cheiro de terra molhada, a terra que ficara dias seca. Apressiava em minha pele a macies do cobertor que em mim fazia um casulo. O cheiro de terra molhada, deu lugar ao cheiro delicioso de baunilha. O cheiro doce oscilava com o cheiro de chuva em dias quentes. Esse era o cheiro que o rapaz tinha.

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