Que ótimo, ver meu noivo me abandonar no momento que mais precisava de sua ajuda, foi um balde de água fria. Talvez ele não fosse tão bom quanto imaginei que fosse. Por mais que Erariel tivesse negado sua ordem, ele não podia lutar comigo?
E quem era aquele que tinha patente maior do que ele? Todos sempre acatavam o que Rion dizia e por um aborto do destino, justamente o mesmo dia que encontrei aquele lunático, os anjos começara a rejeitar suas ordenanças?
De qualquer forma, isso não anulava o jeito que me abandonou.
-Perdoe-me Rei, mas você bem sabe o quão furioso seu pai fica quando não o obedecemos. –Dizia Erariel tirando as almejas de meu pulso e as guardando na caixa.
-Isso era realmente necessário? Me algemar? –Mostrei meus pulsos marcados pela algema ser tão apertada.
Ele deu de ombros antes de fechar a porta e me trancar dentro de meu próprio quarto.
Eu esperava que papai surtasse, só não desse modo. Me prender? Isso era realmente algo que não esperava vindo dele. Me senti em um cárcere privado, em uma cadeia angélica. Órion realmente o tirou de orbita, mas por quê?
-Tudo bem, meu pai é um tolo se acha que ficarei aqui presa. –Encarei a porta procurando um jeito de derrubá-la e passar pelos guardas.
-Mas você irá ficar presa. –Dizia Thuriel, um anjo da hierarquia dos Tronos.
-Sabe muito bem que não deixarei você sair daqui. –Continuou.
Thuriel era o meio irmão de Asyel. Meio irmão porque o pai dele era um Tronos. A última hierarquia com aparência agradável, depois vinha Serafins e querubins. Duas classes de aparências humanoides. O rapaz estava imundo, sua armadura estava cheia de sangue e barro, seus cabelos castanhos encaracolados sujavam meu travesseiro. Um combo perfeito, cama e travesseiro, ambos sujos por quem eu apelidei de Melhor amigo. Estava tão afogada que nem percebi sua presença ali ao entrar.
-Thuriel, você está sujo que nem um animal, faça a gentileza de sair de cima da minha cama, que por acaso, é onde EU DURMO! –Esbravejei.
-Como se fosse a donzela que limpasse. –Ironizou rindo.
Teimoso como era, o anjo continuava ali, na mesma posição que encontrei. Braços cruzados em frente de seu tórax e seu olhos acinzentados rindo da minha decadência.
Quase nunca o via, literalmente. Ele raramente descia para essa dimensão. Quando o vi pela primeira vez, era um garotinho assustado se escondendo atrás de seu pai. Nossos pais tinham um acordo para finalizar e na época, surgiram boatos de que o acordo envolvia a união de nossas casas. Não entendia bem o que era essa união, até hoje não tenho total entendimento sobre, mas sei que não me importei nem um pouco. Vendo o garotinho sentado na porta esperando o pai sair, me fez sentir comovida. Seus olhos esboçara o quão perdido estara sem seu pai por perto. Recordo-me que sentei ao seu lado e comecei a me aproximar, perguntar sobre ele, sobre o que gostava de fazer. Qualquer coisa que fosse o tranquilizar.
Foi então que tornamos amigos, quase que inseparáveis. Sempre que podia, ia vê-lo e vice versa. Mas tudo mudou quando ele foi eleito o herdeiro de seu pai. Mesmo quando nossos desencontros aconteciam quase que frequentemente, dávamos um jeito de nos ver. Antes de sermos herdeiros de nossas casas, planejavamos fugir. Com o tempo nossa amizade, acabou nos aproximando de mais e sabíamos que isso era errado. No dia que Thuriel descobriu que seu pai o uniria com Waziel, a princesa da casa dos anjos guardiões, decidimos de vez em sermos apenas amigos. Amigos com boas experiências juntos, mas apenas amigos. Estive presente na cerimônia, acompanhei tudo ao seu lado. Por mais que sentira uma fagulha de ciúmes, sabia que era o certo. Nossas casas jamais dariam certo.
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Predestinados
RomanceO mundo espiritual, meu mundo, não se trata apenas de anjos, deuses e demônios. Há algo muito mais profundo nisso tudo; se todas as criações foram criadas, quem criou a própria criação? Antes de tudo se originar, existia o Éter e com ele, criou-se a...