Lembrança

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Em um piscar de olhos, apareci em lugar totalmente desconhecido, com pessoas estranhas e uma temperatura muito baixa, que fazia todo meu corpo se arrepiar. Dando alguns passos na frente do garoto, avisto não muito longe de onde pousamos, uma feira, várias barraquinhas cobertas pela neve que caía do céu despido de nuvens. Me perguntei como se tornara possível. O céu daquele lugar era um pouco semelhante com Lyratium, entretanto, em meu reino, havia uma atmosfera mundana, Sol, noite, chuva, etc. Somente em alguns lugares específicos como por exemplo, o Salão principal, alguns quartos, que se fizera livre de tal conjuração. Porém ali, a neve caía do Cosmo acima, sem a necessidade de nuvem.

Abraçando meus braços e os esfregando na esperança de me aquecer, não escondi minha indignação de ver tais criaturas humanoides que ali passavam.

O vento frio levantara uma cortina de neve que quase nos encobriu, minha pele gélida tremia, o que fizera Órion sorrir e se aproximar.

–Vem, vamos sair daqui. –Disse envolvendo meu corpo de baixo de seu braço.

Ele também estara sem nada para aquece-lo, como não tremia com frio daquela cidade? Reino, ou seja lá onde estivéssemos. Ao contrário disso, sua pele queimara como o calor de uma fogueira.

–Onde estamos?

–Viemos para conversar com Aisha.

Conforme caminhávamos, casas se revelara, todas congeladas, mas que de uma forma que desconhecera, não se rompia com o bater das portas, ou com as janelas chacoalhando de um lado para o outro com aquela forte  tempestade.

As barraquinhas pregadas no chão, balançara conforme o vento soprava cada vez mais violento, a lona que as cobriam cantavam desafinadamente, até se rasgarem e seus pedaços voarem pelos ares.

–Quem é Aisha? –Indaguei. Meus dentes batiam conforme o calor se sumia de meu corpo.

–Isso não importa agora, meu bem. O foco agora é fazer você não virar um picolé humano. –Disse quando parou na frente de uma barraquinha de roupas.

Sua estrutura era de madeira apodrecida, porém, as vestimentas maravilhosas. Vestidos das mais variadas cores, desde simples, até elegantes. Um vestido longo preto, rasgado na lateral até as coxas, me chamara atenção. Uma renda delicada subia desde as mãos até o ombro, no colo do seio, um pequeno decote, deixando sexy, mas na medida certa. A saia com uma camada de paetê fino, reluzia um brilho acinzentados com detalhes de floco de neve. Simplesmente perfeito.

O barulho do ambiente soava muito alto, mas posso jurar que a língua que Órion se comunicara com o comerciante, era diferente. Como uma língua morta, rústica e antiga.

Tirando do bolso de sua calça, entregou na mão do homem com olhos vermelhos e chifres em sua cabeça, duas moedas de ouro.

–Aqui, isso deve te ajudar. –Sorriu ao me vestir com um casaco de pêlos de urso. Ele era branco com alguns detalhes em dourado. Fechando o zíper em minha frente, brevemente nossos olhares se cruzaram. A vastidão de seus olhos, demonstraram o quão sedento estara por mim, porém não havia me esqueci do que fizera há algumas horas atrás. Suas ações gentis, não minimizaram a fúria em meu ser, tampouco suas atitudes tóxicas.

Desviando meu olhar, analisei as pessoas ali. Pareciam monstros de uma história infantil. Chifres, rabos, pés de bodes, ciclopes, dentre muitas outras características que ainda não conseguira decifrar. Realmente humanoides.

–Quem são essas pessoas? –Indaguei confusa.

Ele riu.

–Quem são, você quis dizer. –Se aproximou. –São mestiços. Alguns moram aqui, em Ziphã, outros vêm de outros lugares.

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