Já deitada na cama, tento relaxar meu corpo. As lembranças do que houvera com ele no quarto, ainda mexiam comigo, mesmo depois de alguns minutos passados. Algumas fagulhas teimosas insistiam em inflamar, despertando desejo e anseio, mas a culpa, uma a uma as apagava. Como me deixei levar por ele? Sempre tive controle sobre minhas ações e corpo, não houve um dia que me deixei vencer pelos pensamentos intrusivos. Órion facilmente me tirava do controle, seu olhar me tirava o foco, seu toque me enlouquecia. Tudo isso era inefável e a destruição inevitável. Será que Destino consideraria uma reunião de última hora? Ela era a única capaz de separar nossas linhas e em fim, fazermos viver em paz, cada qual na sua. Somente desse jeito, meu casamento ocorreria e não haveria adultério e erros. Como diz as histórias infantis, viveríamos felizes para sempre.
De toda forma, independente do que fosse fazer, precisara repousar e recuperar minhas forças. Entregando-me ao vazio, adormeci.
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Chegando em Betelgeuse, minha dimensão, caminhei até meu trono preto, em seu assento mostrava-se o símbolo de minha casa, uma lua com uma flecha atravessada, o desenho em vermelho escarlate, brilhou acendendo o trono quando me sentei. Me achara sozinho, dispensei todos os guardas, precisava pensar e recuperar o juízo. Apoiando meus cotovelos em minhas pernas e me debruçando, percebi o quao fodido me encontrava. Pensamentos acelerados, uma pressão em meu peito, batimentos descontrolados, parecia que estara morrendo. Tudo que conseguia pensar era na garota e no que aconteceu em Lyratium. Seu corpo nu ainda me pertubara, nosso beijo mexia com meu corpo me deixando sedento e excitado. Por mais que eu a quisesse como nunca quis algo ou alguém, era necessário respeitar seus limites e sua decisão, mesmo sabendo que nossa união fosse irrevogável.
A luta de vencer cada evocação, se tornara cansativa. Os deuses menores e até mundanos, recorriam à mim quando as coisas apertavam para eles, porém isso não era problema meu, ignorava cada chamado. Entretendo, ao fazer, uma puta energia se esvaia de meu corpo. Tudo isso cessava quando Reizel se encontrara perto, simplesmente meu mundo não girava e não me sentia sendo puxado para sei lá onde. A venerava, ela era minha evocação, minha gravidade, meu mundo. Quando a vi pela primeira vez, deveria ter matado a charada, aquele dia se tornara o início de algo muito maior, e se soubesse sobre tudo que viria a seguir, fugiria.
Agora não tinha mais como voltar atrás, se antes não tinha nada atado, quando a beijei, selei nosso destino. Deveria estar me culpando por colocá-la forçadamente nesse rolo que claramente não queria fazer parte, mas não consegui sentir nenhum vestígio de remorso. Renessiah foi criada para mim e não abriria mão de tal direito, independente se ela aceitasse ou não. Meus princípios me impediam de matar meu próprio irmão, mas isso não implicaria em me manter distante, algo que não conseguiríamos mais fazer.
Forçá-la a deixar seu noivo seria a opção mais viável, mas não faria, não tinha esse direito. A garota era livre para tomar suas próprias decisões e mesmo que pudesse impedir e a persuadir, mostrar que nosso elo se fizera mais profundo do que imaginava, não era uma opção. Com o tempo, ela entenderia e cansaria de fugir. Quanto mais Reizel corresse de seu chamado, mais destruição causaria no caminho. Esse negócio de destino soava hilário, se você tentasse negar seu chamado, sucumbiria à loucura e possivelmente à morte das pessoas próximas, mas quando finalmente o aceitasse, o caminho se abriria podendo trilhá-lo de forma pacífica. Senso de humor duvidoso daquela Velha. Mas, se essa fosse sua decisão, a anjinha teria que aguentar as consequências calada.
Não poderia finalmente nos unir e destravar as portas que fomos chamados à abrir, sem sua ajuda. Reizel nos levaria à ruína com sua decisão idiota. Negar seu trono, seu título, para viver uma vida tão tediosa como a de um anjo? Poderíamos dar origem a uma força inabalável, um pilar do universo, como ousar recusar isso? Não conseguia entender sua linha de raciocínio, por mais que me esforçasse. Quanto mais cedo a garota saísse de Lyratium, menos estrago causaria em sua estimada dimensão que chamava de casa. Por mais que não gostasse dos anjos, isso certamente a destruiria, e não queria vê-la assim.
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Predestinados
RomanceO mundo espiritual, meu mundo, não se trata apenas de anjos, deuses e demônios. Há algo muito mais profundo nisso tudo; se todas as criações foram criadas, quem criou a própria criação? Antes de tudo se originar, existia o Éter e com ele, criou-se a...