Deus

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Ainda atordoada pelo acontecera, abro meus olhos com dificuldade, minhas palpebras pareciam ter o peso de dois mundos. Minha cabeça latejara na medida que minha consciência voltara, a cada lembrança ainda fragmentada que retornara, o pânico se instaurava.

Pera aí... EU MORRI!

Eu vi o sangue, o buraco em meu peito, o corpo do garoto morto no chão, a explosão de energia. Como estara viva depois de tudo isso?

Em um impulso, sento na cama. Meu corpo todo doía. Passando minhas mãos em meu peito já sem a armadura, não senti nada, nem mesmo cicatriz, nenhuma prova real do que acontecera. Teria sido um sonho? Mero delírio? Depois de tanto estresse, não me surpreenderia se esse fosse o caso.

Deslizando meus olhos para baixo, vejo meu corpo com marcas secas azuis, meu vestido manchado e rasgado. Não. Não foi um pesadelo, realmente aconteceu. Como estara viva então?

Olhando ao redor, vejo Órion deitado em meu lado, suas mãos se encontrara de baixo de sua cabeça, seus pés esticados, balançavam de um lado para o outro enquanto seus olhos esmeraldas, me fitavam.

Piscando várias vezes, tentei afastar qualquer margem de ilusão de minha visão, qualquer efeito colateral da morte. Não podia ser... Eu vi seu corpo já sem vida, estirado no chão. Nós dois tínhamos voltado a vida, teria alguma relação com essa maldita ligação? Se quando um morre, o outro morre, o mesmo fator se aplicaria à vida também? Se sim, como seria possível retornar a vida sem alguma meríade no reino? Na melhor das hipóteses, já se passara um ou dois dias, no máximo, e nesse meio tempo, papai trouxera alguma de fora para me ressuscitar, porém, duvido muito que a mesma sorte se aplicasse à pessoa que ele mais odiara.

–Olha só quem acordou. Bem-vinda à terra dos vivos novamente, anjinha. –Se sentou na cama sorrindo sarcasticamente.

Parada ainda o olhando, não digo uma só palavra. Me esforçara para processar todas as informações que vinham com força em minha mente. Meus pensamentos queimavam, piorando a pressão em minha cabeça. Cada movimento que dara, meus músculos se contraíam, causando uma dor absurda. 

Ele ri se aproximando.

–Tudo bem, muita coisa para assimilar. É assim na primeira morte.

Primeira morte. Sua entoação soou muito simples. Como se todos viera a passar por isso pelo menos uma vez na vida. Se uma meríade não tivesse me trazido de volta, ambos continuaríamos mortos. Isso não foi acaso, foi sorte! Não havia nada de simples nesse contexto, só dor e confusão. Não são todos que morrem e são trazidos de volta, a maioria continua no vazio e nunca mais voltam. A existência é apagada completamente e o que resta, é o legado que deixara.

Me acolhendo gentilmente em seu braço, riu. Como se esse seu gesto de empatia, mesmo que raro, traria consigo algum conforto ou afastaria as trevas que me rondava.

Colocando minhas mãos em seu peitoral, procuro algum sinal do ferimento, mas o mesmo havia simplesmente sumido, como o meu. Mesmo que suas vestes continuassem manchadas pelo seu sangue negro, não tinha nada para comprovar a sua morte, somente a lembrança.

Relutando em me afastar do calor de seu abraço, o afastei.

–Onde está a meríade que nos trouxe de volta? Preciso agradecê-la. –Disse me levantando na cama, mesmo que embora meus músculos me rasgassem por dentro.


Ele riu se jogando novamente na cama.

–Você ainda não entendeu, né? –Indagou se divertindo com minha situação.

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