Predestinados

Despedida

Ao adentrar o salão, procuro por papai, que merda ele havia feito? Ele teria me prometido à outra hierarquia? Não, ele não faria isso. Quer dizer, não com tanta pressa. Não fazia nem 24 horas do meu retorno.

Ao avistá-lo no bar, vejo que não estava sozinho. Conversava com uma mulher de cabelos ruivos e de vestido vermelho como sangue; não a conhecia, mas sua energia era estranhamente nostálgica.

–Desculpe atrapalhar, mas preciso roubar meu pai por alguns minutos. 

Mikael me olhou com dúvidas em seus olhos.

–O que houve?

Antes que eu pudesse responder, ouço um barulho de estrondo; era como se um trovão tivesse soado dentro do salão. O som veio acompanhado de tremores por todo o reino; não demorou muito para que uma sirene começasse a tocar.

Droga...
Eu sabia que barulho era esse.

Todos começara a se movimentar; Os Arcanjos e Anjos ficaram a postos para receber as ordenanças de Mikael; já a hierarquia dos Tronos aplicaram seu rastreio em toda a extensão do Castelo. 

Papai caminhou até o último degrau; se virou e ali se iniciou o começo de uma possível batalha. Suas ordenanças foram para que todos os Arcanjos e Anjos se encaminhasse para a arena e se amarmassem.

Sem que pudessem notar minha falta, me misturo a saída de tantos Arcanjos e corro até onde o barulho veio; o Portal.

–Sério que pensou que pudesse me prender fora? –Ironizou Órion.

O portal estara em ruínas. Suas pedras e inscrições quebradas no chão em pequenos pedaços de rocha. Aos poucos as luzes iam se apagando do que uma vez foi a porta para aquele Reino.

–Qual seu problema? –Bradei. –Você destruiu o portal e quase levou esse reino junto!

–Eu jurava você tinha dito que qualquer ser de trevas que passasse por ele, viraria cinza.

–Bem, eu tô vivo. –Se olhou e bateu em sua calça jeans rasgada para tirar a poeira.

O que era estranho... O portal de fato deveria o neutralizar.

–Órion... eu te odeio. –Me aproximei.

De fato, eu o odiava. Odiava com todo meu ser, com toda minha força, com todo meu âmago e com cada átomo de meu ser. O odiava porque não conseguia o odiar verdadeiramente. Mesmo depois do imbecil destruir a porta para o Reino dos Arcanjos, mesmo com as rachaduras que criou com sua entrada. Não... eu não o odiava e isso me fazia o odiar.

–Por que você não desiste? Por que você não me deixa? Eu tô cansada disso, eu tô cansada de seguir uma maldita profecia que nem sabemos se é real.

O barulho dos guerreiros se aproximando aos poucos ficavam mais nítidos. Não havia tempo, ele tinha que sair dali, papai não iria deixar isso passar, mesmo que fosse uma batalha perdida.

–Ness. –Disse se aproximando mais. –Eu nunca acreditei em profecias, tampouco acreditei que fosse possível existir algo como o que sinto por você. Mas ao vê-la naquele lago, eu me senti vivo, como nunca me senti.

Sua mão tocou meu rosto e aos poucos deslizava pelo meu pescoço.

–Você pensa que eu não tentei? Pensa que eu não tentei fugir? De você, de tudo isso? Pensa, meu bem... você mesmo presenciou coisas que pareciam impossíveis, mas se tornaram possíveis.