Quase

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Ainda meio zonza pelo ataque que recebi, abro meus olhos com certa dificuldade. Minhas pálpebras pareciam o peso de dois planetas. Lutei com as poucas forças que tinha para abri-las.

Resmungando e levantando minha cabeça, vejo Irion ao meu lado dormindo. Ele era perfeito, como podia ter me deixado levar por um serzinho tão egocêntrico, sendo que tinha minha própria escultura de beleza ao meu lado? Era gentil e acima de tudo, pacífico. Sua barba estava crescendo, dando um ar mais sexy à ele.

Essa visão quase me fez esquecer do que houvera no dia anterior. Mas sabia que ele não havia feito tal ataque propositadamente. Em um estalo, me lembrei do que Rion havia chamado Órion.

Irmão.

Eles eram irmãos, afinal. Isso explicava muita coisa. Sua fisionomia e energia por exemplo. Se bem que, parando para analisar, a energia de Órion pesava um pouco mais.

Ao lembrar dos detalhes que ocorrera, me senti constrangida e um pouco furiosa. Não queria que fosse o ser egocêntrico a me ajudar, e sim meu noivo. Mas por alguma motivo, lembrar-me do jeito que ele me tratou, do seu coração pulsar no mesmo ritmo que o meu, me fez queimar internamente.

Me sentando na cama com certa dificuldade, avisto Órion sentado no parapeito da janela. Seus olhos esmeraldas fitavam a arena, provavelmente presenciando o treino dos Arcanjos. Ele não parecia bem, sua expressão estava fechada, seus músculos tensos. Sua mandíbula se contraía a cada movimento ocular. Diferente de Irion, que continuava relaxado ao meu lado.

Mesmo calado e estático, o imã que atraía nós dois, me fazia incendiar e esquecer completamente de meu noivo ao meu lado.

Nesse momento senti muita falta de Ash. Ela me aconselharia algo muito bobo, mas me faria rir.

Fique com os dois, bobona

O que os olhos não vêem, o coração não sente. Não precisa falar nada a eles.

Bufo lentamente na esperança que quando o ar saisse de meus pulmões, saísse também toda essa confusão e dúvidas. Meu peito doía, meu coração ardia. Eu precisava dele, mas isso não podia acontecer. Por mais que Irion tivesse errado, ele era meu. Meu noivo, meu guardião, meu escolhido. A resposta era tão óbvia, então por que essa duvida assombrava tanto minha mente?

-Bom dia, bela adormecida. –Disse Irion.

O olhei e o vi se ajeitando ao meu lado.

-Lhe acordei?

Ele negou.

-Já estava acordado, querida. –Sorriu.

Órion, porém, não de moveu, não resmungou, nem desviou seu olhar. Parecia estar perdido, atormentado.

Quanto mais tempo se passava, mais esses sentimentos cresciam e se proliferaram como um verdadeiro ninho de bactérias. Essas bacterias corroíam pouco a pouco meus sentimentos por Rion e dava vazão a novos pensamentos, vontades, emoções. A forma que meu corpo reagia ao dele, jamais acontecera com quem deveria de fato acontecer. Era como se estivesse vendo um tsunami enorme vindo em minha direção e eu estivesse a beira de um abismo. Qualquer decisão que tomasse, daria no mesmo, minha morte.

Cada vez que eu o olhava, cada olhares cruzados, meu corpo reagia de forma absurda. Minha única reação, era engolir em seco, na falha tentativa de engolir alguma ação precipitada que poderia tomar. Se isso tudo continuasse dessa forma, se eu não endireitasse o rumo que meu barco estara tomando, isso se complicaria cada vez mais, a ponto de não ter mais retorno e mergulhar na voragem do mar. Como romperia algo mais forte que eu? Como faria isso? Se cada vez que ele ficara perto, ou me alvejasse com seu olhar florestal, eu perdia meu norte?

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