Ao longo do meu trajeto até o grande Salão Principal, fui trilhando uma caminhada nada tranquila em meus pensamentos, buscava dentro de mim alguma lógica que explicasse tudo que estara acontecendo. Minha vida era uma coisa antes de Órion aparecer nela. Era eu quem comandava meu corpo, meus pensamentos e sentimentos, mas depois que o vi pela primeira vez, tudo se esvaia muito rápido. Me sentia quebrada, totalmente uma inquilina em meu próprio corpo. Todas as vezes que o via e o sentia, meu cérebro desligava, como isso poderia ser racional?
Eu ainda podia sentir a quentura de seus lábios em meu pescoço, seu toque em minha coxa nada pacíficos... Por mais que eu me esforçasse pra respirar o ar puro, relaxar meu corpo e focar minha mente em outras coisas, o hálito de hortelã habitava em meus pulmões e sua voz macia em minha mente.
Quer que eu pare, Pequena Estrela?
Após finalmente chegar, avisto todo o lugar recheado de anjos. Eu reconhecia alguns, mas outros, eram apenas familiares, possivelmente vindo de outras hierarquias. O que estara acontecendo para que Mikael organizasse uma reunião em cima da hora? Meu instinto dizia que independente do assunto que ele fosse tratar, não seria bom. Irion se localizara ao seu lado, assentado em um trono menor do que o Príncipe, possivelmente como conselheiro. Seu olhar evitava os meus, focando apenas em seus pés.
-Por favor, se aproxime. –Dizia papai fazendo gestos com sua mão.
Conforme me aproximava do trono, os anjos abriam caminhando. Todos presentes eram guerreiros, não havia cajados, apenas espadas, escudos e lanças, o que levou a concluir que o assunto era mais sério do que pensei. Não era um tema ruim como pensara, era péssimo.
-O que está acontecendo? –Rompi o silêncio. O que fez minha voz ecoar pelo salão.
Os guerreiros me olhavam de forma estranha, semblantes que não conseguia entender ao certo. Um misto de decepção e repúdio. Sussurravam entre si comentários indistinguíveis sobre mim. Tudo aquilo afastara minha mente de Órion, todos os sentimentos sumiram tão rápido quanto surgiram. O que eu havia feito de tão grave para que as hierarquias murmurassem coisas desagradáveis? E me lançassem olhares de repúdio?
Isso me constrangia, o que me fizera aumentar meus passos até que chegasse no destino logo. A ansiedade em meu peito me consumia fazendo meu coração bater em um ritmo descompassado.
Em frente do altar, os dois se entre olharam rapidamente, antes de Mikael bradar, sem empatia alguma em seu tom.
–Reizel Enochiel, és minha filha e herdeira, minha primogênita. Mas como príncipe, não posso lhe dar benefícios diferentes, não posso te dar um passe para que seja livre de seus atos e das consequências que o mesmo pode gerar.
Confusa, levanto meus olhos até que os mesmos se encontrassem com os dele. Com a sobrancelha arqueada, fui bombardeada com seu semblante frio.
Se levantando de seu assento, caminhara lentamente até meu encontro. Em um salto, pousou em minha frente.
–Infelizmente seu ato gerará um ultimato. –O arcanjo suspirou pesadamente antes de continuar.
Ultimato? EU? Como ele ousa me dar um ultimato sem eu ter feito absolutamente nada??! Seu filho foi para Infernnus sem sua permissão, voltou todo arrebentado e com uma legião de demônios querendo invadir Lyra e ainda sim não houve consequências alguma. Como Mikael tem a cara deslavada de me dizer que não há passe livre para seus filhos?
–Reizel, herdeira de Lyratium e de toda milícia celeste. Herdeira dos Arcanjos. Se você voltar a se encontrar com Órion, será banida de todo o reino angélico.
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Predestinados
RomanceO mundo espiritual, meu mundo, não se trata apenas de anjos, deuses e demônios. Há algo muito mais profundo nisso tudo; se todas as criações foram criadas, quem criou a própria criação? Antes de tudo se originar, existia o Éter e com ele, criou-se a...