Predestinados

Densidade

Vejo a porta se abrindo com agressividade. Era papai com seu semblante furioso e inquieto. Seus olhos demonstrara a sua raiva, vermelhos como sangue. Sua boca franzida já dava indícios do caos que logo sairia dela.

Seu olhar sangrento me atordoou, me fez desligar totalmente da realidade. Eu o vi, sem armaduras ou espadas, contemplei sua alma, analisei seu espírito. Não era só raiva, mas também decepção. Medo talvez? Mas de que, exatamente? O que uma luta tão idiota faria comigo? Como o afetaria? Isso tudo não estava me cheirando bem, meus instintos me ensurdeciam gritando que havia algo ali que eu não sabia, que Mikael omitia.

Vê-lo segurando Excalibur em mãos, só piorou meu estado mental. A segunda espada mais poderosa de todo reino Angélico, estava ali, prestes a dar início a uma carnificina, por bobeira. O Arcanjo seria tão tolo ao ponto de desafiar alguém claramente mais forte? Ele estara totalmente fora de seu perfeito juízo. E duvido muito que voltaria a ficar são tão facilmente.

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O que faz aqui? -Esbravejou enquanto se aproximara de Órion.

Visualizei rapidamente a porta. Vários anjos se encontrara ali, parados, apenas observando. O que papai pensava em trazê-los? Que em uma simples ordem, todos avançariam no ser parado na cama? Colocariam suas vidas em risco por alguém claramente movido a raiva? Sinceramente... esse não era o Príncipe Guerreiro que conhecera. Ele sabia de algo, algo grande o suficiente para colocar toda Lyra em risco e mais, toda sua hierarquia e a si mesmo.

Uma avalanche de perguntas me encobria. Era uma sensação desesperadora, me sentia uma leitora de minha própria vida. Quer dizer,  sempre tive a sensação de estar adormecida, porém nunca me importei, de certa forma, eu a controlava, mesmo que minimamente. Mas agora? Me envolvia cada vez mais com um cara narcisista e egocêntrico, arriscando meu noivado, arriscando minha posição como herdeira e mais, colocando meu pai nessa confusão descabida. Perdi completamente o controle da situação. Tudo que eu queria fazer, era fugir, voltar naquele treino e não ter ido para a lagoa. Boa parte dessas dúvidas seriam evitadas.

O garoto que ainda repousava em minha cama, pouco se incomodou com o ato de Mikael. Não moveu seus olhos da vastidão do Cosmo acima de nós. Apenas sorriu. Aquele sorriso maléfico e desafiador.

-Oras meu amigo, sabes muito bem que não preciso de permissões para ir onde quero e mesmo se precisasse, esse lugar estaria de portas abertas como sempre esteve.

Portas abertas? Sempre? Então ele já houvera pisado em Lyra... Isso só abriu margens para mais uma onda me atingir em cheio. Como nunca o vi antes? Teria me esquecido ou foi antes de eu nascer? Isso ao menos solucionava uma dúvida, ou duas. O portal estara com problemas a tempos. Seria considerado normal ele passar uma vez, mesmo que dificilmente, mas duas? Por mais que Rion tivesse energia negra, provavelmente papai tivesse dado a permissão para que entrasse. Porém, duvido muito que a mesma situação se encaixara com Órion. A segunda explicaria porque todos os conheciam.

-Sabes que me desafiar seria uma decisão irracional, Quem Como Deus. -Continuou.

Ele se ajeitou em minha cama. Repousou suas costas em minha cabeceira e cruzou seus braços atrás de sua cabeça. Órion realmente não se sentia nem um pouco intimidado, nem um porcento. Podia ver que ele estava se divertindo.

-Não ouse me chamar assim. -Esbravejou Mikael apontando a espada em sua direção. As runas brilhavam conforme sua energia oscilava.

Surgiram nuvens negras e densas que cobriam toda a beleza do céu acima. O brilho do Sol e das estrelas sumiram, a escuridão tomou conta. A única luz que iluminava o reino naquele instante, eram os raios vermelhos que tocavam com agressividade o chão. Rachaduras apareciam derramando por toda extensão da cidade sua lava fumegante, um fogo faminto que devorava tudo que via no caminho. Os trovões cantavam hinos de batalhas, tudo desmoronaria se não fizesse algo para impedir. Toda a egregora do reino estava sobre ele, ele era o governador de tudo, e nesse momento, isso era o que menos importara. Tudo que importara era simplesmente a cabeça de Órion como troféu.