Neutralizado

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Nesse momento todos que estavam no recinto se viraram boquiabertos, incrédulos e murmurando. Eu sabia exatamente o que estava prestes a acontecer, eu sabia exatamente o temor que sentiam, e também sabia do risco que corria ali sendo exposta.

Então o mesmo homem que outrora havia me questionado sobre os anjos e o Deus deles, sai do meio da multidão e vem em minha direção.

Com a expressão fechada e energia alta, se ajoelha em minha frente.

-Peço-te perdão pelo meu mau comportamento, e entenderei se quiser me desintegrar aqui agora. Peço apenas que poupe minha filha e minha mulher.

Ele puxa a espada que estava em sua bainha e a entrega em minhas mãos.

Voltando meu olhar para as pessoas dali, avistei uma criança trajando um vestido de princesa, com lantejoula rosa por todo tecido, mangas de seda que iam até o pulso e em seus pés, uma bota com asas atrás. Sua cabeça havia orelhas de tigre e seus olhos que já estavam encharcados de água, brilhava uma cor esverdeada.

A mulher que estava com ela a abraçando por trás, trajava a mesma roupa, porém em seus pés, havia um salto scarpin preto que combinavam com seus cabelos negros ondulados.

O olhar de desespero e medo das duas me acertaram em cheio, tentei desviar para as demais que estavam ao seu lado, mas todas elas estavam com o mesmo olhar de medo e arrependimento. Fui envolvida por um estranho déjà vu, aqueles olhares, as emoções soltas pelo ar, me atingiram feito adaga em meu peito. Ser a Deusa de toda criação não era fácil, todos me olhavam com medo em seus olhos, desviavam do caminho, se sentiam ameaçados.

Ao contrário de minha irmã, não tinha deixado o cargo de ser uma Deusa primordial, subir em minha cabeça, não aproveitava dos medos dos seres para conseguir o que queria; continua sendo a mesma Renessia que fui desde o início da criação, simples.

Órion ri.

Nesse momento, toda aquela sensação de apreensão se esvai, todos aqueles pensamentos e vergonha, desaparecem.

-Admiro sua falta de noção, Sr.Hasten.

Hasten porém continuava debruçado em meus pés calado.

Finalmente recupero o controle de meu corpo e o ajudo a se levantar e entregando sua espada indago tentando não deixar transparecer meus sentimentos.

-Eu não vou lhe matar, milorde, não tem porque eu fazer isso com você ou qualquer um que esteja aqui.

Sou surpreendida pelo abraço dele.

-Obrigado, obrigado.

Ao ele se aproximar de sua família, a mesma se curva em meus pés, e em um efeito dominó, todos presentes fizeram o mesmo, menos Órion e.. Yastrid que havia sumido.

-Olha só, quer que eu faça isso também? -Indagou Órion rindo da situação.

Tudo que estava acontecendo, me fazia sentir um estranho sentimento de desespero e nostalgia; eu não queria isso, não queria que me tratassem diferente por ser quem era, não queria que eles fizessem o que estavam fazendo ou me atingissem feito adaga com seus olhares de medo; Eu queria ser apenas Reizel, princesa da milícia celeste e não Renessia, Deusa Primordial da Luz.

Sem nem perceber, uma luz cegante começa a sair de meus olhos, todo aquele turbilhão de pensamentos e sentimentos, faziam com que eu estivesse perdendo o controle de meus poderes, eu tinha perdido minha âncora, a âncora que me mantinha bem longe do descontrole, que me trazia paz, encontrava-se nesse momento, destruída pelas marés fortes.

Algumas pessoas se levantaram rapidamente e saíram gritando enquanto outras, continuavam com seus joelhos e mãos no chão diante de minha presença.

Antes que eu pudesse reduzir todos os seres presentes em pó, ou no menor dos casos, deixá-los cegos permanentemente, pulo para fora do castelo.

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