Eu tentei. Eu juro que tentei. Mas pra mim já deu. Tentei seguir a ideia de Órion, tentei novamente ser Renessiah, mas não dava mais. Eu só queria voltar a ser Reizel.
Sentada na grama, sozinha e observada pelas trevas, acabei cedendo à angústia que atacava meu coração a tempos. De tudo que eu poderia pensar naquele momento, somente uma pergunta ecoava
Por que eu?
Por que eu tinha que carregar o peso de ser quem sou? Por que eu tive que ser ligada a um ser tão miserável como Órion? Ele conseguiu arruinar o pouquinho de paz que tive ao longo dessas eras; se ele não tivesse invadido Lyra... nada disso tinha acontecido.
Minha angústia era tamanha que não contive meus gritos e minhas lágrimas. Eu só queria que isso acabasse. Por um momento eu pensei que ele estava certo, talvez os anciões deveriam saber que eu estava de volta, minhas criações ficariam alegres por saber de meu retorno; minha dimensão ganharia a luz que outrora teve. Imaginei que agora, com meu predestinado ao meu lado, eu conseguiria me manter de pé. Como eu estava enganada...
Ele só me iludiu com uma falsa esperança.
Meu peito queimava de dor, meu rosto era inundado por lágrimas. Eu sentia toda minha luz ser sugada pelas trevas que me rodeava. E cadê meu predestinado nessa hora?
Se de fato ele era o homem da profecia, não deveria sentir o que sinto? Ou isso só era aplicável pra morte? De qualquer forma, Órion me feriu de mais. Em quase todos os sentidos. Traição, mentira, falsa esperança. Ele me destruiu.
Em uma atitude desesperada, me levanto e salto para Lyratium. O portal que protegia a cidade dos Arcanjos, me bloqueou. O que era bem óbvio, a quantidade de energia negra que me abraçava, era absurda. Com muito cuidado para não fritar o portal e não desequilibrar a egrégora do planeta de Órion, evoquei a assinatura energética de minha dimensão. Era a única forma de eu passar e não causar danos à Lyra.
Se eu me envolvesse com a minha própria Luz, queimaria a dimensão toda dos anjos.
Ao sair do portal, me deparo com um cenário diferente, as flores que antes enfeitavam a saída e entrada do portal, achavam- se completamente murchas, a Luz do Sol era ofuscado pelas nuvens negras. Olhando além, vejo o grande salão. Ele também estava estranho, quer dizer, continuava fechado e com guardas nas portas, mas havia sido desenhado runas por toda sua extensão. Eu as conhecia, eu as criei. Por que papai colocaria runas de bloqueio no salão? Por que ele não colocou uma runa normal enoquiana?
Olhando um pouco acima, vejo o castelo no topo da montanha. Meu lar. Ou onde costumava ser.
Naquele momento, fui invadida novamente por lágrimas; eu estava de volta, eu estava ali, em minha casa, no meu reino, com os meus irmãos e irmãs. Eu sabia que tudo aquilo foi uma ilusão que havia criado, que os anjos não eram nada comparado a hierarquia que de fato pertencia. Tá, e daí? Sinceramente, me sentia muito melhor aqui do que em qualquer outro lugar, com deuses egocêntricos e egoístas.
-Reizel? É você? -Indagou uma voz por trás.
Ao me virar vejo Ash. Ela se encontrava totalmente mudada. Muito semelhante à sua mãe. Fisicamente igual a outrora, entretanto, seu semblante havia se tornado mais maduro.
Asyel correu em minha direção sem nem pensar duas vezes, me agarrou em seus braços e me sufocou com um abraço que tanto precisava. Nós duas caiamos no chão e ali permanecemos sem se importar com mais nada.
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Predestinados
RomanceO mundo espiritual, meu mundo, não se trata apenas de anjos, deuses e demônios. Há algo muito mais profundo nisso tudo; se todas as criações foram criadas, quem criou a própria criação? Antes de tudo se originar, existia o Éter e com ele, criou-se a...