Morte

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Adentrando o castelo, torci para que meus ferimentos já estivessem cicatrizados. Fitando brevemente minha coxa, o ferimento já havia curado, porém, a mancha de sangue seco escorrido pela perna, era evidente, assim como em minha armadura e vestido. Aproveitando das sombras do salão principal já reconstruído, tento-me esconder. Ninguém, absolutamente ninguém poderia me ver naquelas circunstâncias.

Já perto das escadas, aliviada por ter passado despercebida, sou surpreendida por um puxão agressivo que vinha de trás.

-Onde esteve? -Bradou Mikael com o semblante frio.

Seus olhos azuis, perdera-se o brilho ao ver o quão suja me encontrara. Roupa rasgada, mancha de barro e sangue, pele toda marcada com suas cicatrizes. Por sorte, escondi minhas asas antes de voltar para Lyra, se não, pioraria muito mais aquela situação. Era menos uma evidência, pensei. Não que mentir fosse me livrar da punição, mas se papai visse minha asa, sua ira só se intensificaria.

-Deixa eu adivinhar.. você desobedeceu minhas ordens? -Bufou furioso.

Se voltando de costas, andara de um lado para o outro, tentando se acalmar. Seus olhos inquietos, percorriam todo o recinto, buscara os manter afastados de mim, e eu sabia porquê. Se eles se encontrassem com os meus, seu caos interno impossibilitaria qualquer chance de conversa saudável. Se me analisasse, meus machucados o faria tomar novamente uma decisão precipitada, mesmo que já curados, e nós sabíamos o quão catastrófico foi sua última.

-Pai.. -Tentei me aproximar, mas ele se afastara.

-Não, Mikael. Rei não lhe desobedeceu. Estavamos duelando em um lugar reservado. -Respondeu Irion me acolhendo por trás.

Senti um arrepio quando algumas gotas de água fria, tocaram meu rosto. Lentamente elas escorriam pelo meu pescoço, até serem engolidas pelo tecido de meu vestido.

-Tenho certeza que isso não lhe incomoda, já que logo iremos nos casar e sua filha será MINHA responsabilidade. -Continuou.

Rion apoiou seu rosto em meu ombro.

Suas mãos tremiam em minha cintura. Ele sabia com quem eu estara e aquilo o destruiu. Sua pele fria tocando a minha, me faziam tremer. Rion passara pano, mesmo com tal atitude minha, o esmagando por dentro.

Doce Irion... Sua bondade para comigo me constrangia. Sua energia era totalmente oposta de seu irmão. Enquanto Órion me causara uma sensação de adrenalina e confusão, sempre me desafiando a abandonar meus princípios e seguir o caminho errado, Rion me trazia segurança e calmaria. Sempre me aconselhando a fazer a coisa certa, mesmo que embora, não fosse o que almejasse. Meu noivo, depois de todo esse tempo, se tornara o certo para mim, o cara que nunca me deixaria faltar com minhas responsabilidades. Então, diante dos fatos, por que insistia em deixar o garoto errado me corromper e me tragar? Turvar minha honra e chamado?

-Né, Reizel? -Me cutucou delicadamente debaixo do braço.

-Oh, sim sim. -Sorri ao ser tirada de meus pensamentos.

O príncipe semicerra seus olhos desconfiado. Ele sabia que algo estara errado ali, mas não tinha provas para depor contra seu superior. Ambos não se aturavam, mas quando se tratara do outro sujeito, o sentimento não era indiferença ou um simples ranço, era ódio e repugnância. Pensei que fosse rastrear a minha energia para ter certeza do que meu escolhido dissera, mas não o fez. Não sei se foi porquê não conseguiu ou por medo do que viera descobrir. De todo modo, me livrei dessa, por sorte.

-Da próxima vez que forem treinar, treinem no campo. -Respondeu saindo do salão.

Rion soltou um suspiro longo de alívio.

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