A noite passou enquanto eu apenas observava Alex do outro lado da caverna, ainda preso em correntes. Agatha tinha razão quando disse que ele já havia aprendido a se controlar em sua forma de lobo. Durante todo o tempo em que estava transformado, Alex ficou quieto, deitado com a cabeça apoiada entre as patas da frente, inofensivo, olhando fixamente para mim. Talvez estivesse se perguntando o porquê de eu não ter me transformado. Talvez ele achasse que pudesse ter se enganado. Mas ele estava muito certo disso. Não fazia sentido para mim, e muito menos para ele.
Eu não conseguia ver o céu de dentro da caverna, mas sabia que já havia amanhecido. Meu celular havia descarregado, então eu não consegui olhar as horas, mas eu consegui sentir que a noite já havia chegado ao fim, e lá fora, o sol havia despertado. Outro motivo pelo qual eu sabia que já era dia, foi quando Alex, ainda em sua forma de lobo, começou a se contorcer até se tornar humano novamente. O grande lobo havia desaparecido, e no lugar, havia apenas Alex, deitado sobre o chão frio, sem suas roupas. Completamente nu. Ele levantou a cabeça alguns centímetros e seus olhos encontraram os meus, ainda com resquícios daquele brilho amarelo. Seus cabelos estavam bagunçados, e pude ver o brilho de suor em sua pele. Meu primeiro instinto foi correr até ele, mas fui impedida pela correntes, que ainda estavam presas ao redor dos meus pés. Correntes que não foram utilizadas para o devido fim. De certa forma, só serviram para deixar marcas vermelhas ao redor dos meus pulsos. Fora isso, foram inúteis.
Agatha correu até o irmão, notavelmente aliviada por tudo ter acabado. Ela o cobriu com um cobertor e sussurrou algo que eu não consegui ouvir. Logo depois, ambos olharam para mim com uma expressão desconfiada.
Depois de um tempo, Alex já havia se vestido e parecia quase bem de novo, apesar de sua fome excessiva e a expressão de cansaço estampada em seu rosto.
- Acho melhor eu ir para casa - Falei em determinado momento, quando já estava livre das correntes e com minha mochila nas costas.
- Tem certeza? - Agatha perguntou entre um sorriso reconfortante. Ela ainda estava sentada ao lado do irmão, que comia apressadamente alguns sanduíches que ela dera para ele.
- Tenho.
- Eu levo você - Alex largou o sanduíche e fez menção de se levantar, mas eu o impedi apenas com um gesto de mãos.
- Não! Não precisa. Eu vou ficar bem.
- Tem certeza de que está bem? - Agatha perguntou.
Assenti, sem muita certeza.
- Eu te levo... - Alex repetiu, e eu ia recusar novamente, se Agatha não o tivesse interrompido antes.
- Eu a levo - Ela disse. - Meu carro não está tão distante daqui.
- Não quero te incomodar.
- Não será incômodo algum - Ela disse enquanto se levantava. Então se voltou para Alex. - Você vai ficar bem?
- Acho que o pior já passou, não é? - Ele disse soando um pouco sarcástico.
Nossas olhares se encontraram e não se desviaram. Nem mesmo quando Agatha voltou a falar.
- Selena, eu te espero lá fora, tá bom? - Ela disse, e logo após saiu da caverna, deixando Alex e eu sozinhos.
- Como está se sentindo? - Minha voz soou trêmula.
Ele apenas deu de ombros.
- E você? - Alex retrucou.
Dei um suspiro cansado.
- Não sei como me sentir agora.
- Eu entendo - Alex apertou de leve minha mão e tentou sorrir - Acho melhor você ir agora. Foi uma noite difícil, deve estar cansada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Uivo da Lua
Teen FictionSelena é uma jovem de 17 anos que desde que perdeu a mãe quando criança, vive sozinha com seu pai. Sua vida podia ser considerada particularmente normal. Ela ia para a escola, às vezes saía com os poucos amigos que tinha e comia pizza com o pai todo...