Capítulo 36

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Mesmo depois de chegar em casa, minha mente ainda estava perturbada com tudo o tinha acontecido. Will havia ido pra casa, por insistência minha. Eu precisava resolver algumas coisas, e precisava fazer isso sozinha. Relutei antes de abrir a porta e entrar. Mas quando entrei, atravessando o curto corredor que levava até a cozinha, notei que a casa estava silenciosa. Tão silenciosa quanto quanto eu a havia deixado. A TV estava desligada, e a bancada da cozinha estava limpa, e não havia nenhum outro sinal que indicasse que meu pai estava em casa. Onde quer que ele tivesse ido, ainda não havia retornado.

Vi essa como uma oportunidade para vasculhar a casa. Por mais que tivesse dito a Alina com uma certeza quase absoluta de que não havia praticamente nenhum canto da casa que eu não conhecesse, eu precisava conferir cuidadosamente. O primeiro lugar em que pensei, foi o quarto do meu pai. Larguei minha mochila ao pé da escada e subi correndo. Sua cama estava arrumada - o que me fez pensar que ele não tinha saído com pressa de manhã - , apesar de roupas sujas e latas de refrigerante vazias estarem espalhadas pelo quarto. O quarto inteiro cheirava a perfume masculino e suor. Fui em direção ao criado mudo mais próximo, ao lado de sua cama. Chequei todas as gavetas, mas não havia nada estranho que pudesse ser o que eu estava procurando. Eu ao menos sabia o que eu estava procurando?

Parti para o outro criado, do lado da janela. Revirei as gavetas e não achei nada. Quando estava prestes a me levantar, parei quando meus olhos focaram no porta retrato em cima. Me sentei no chão com as costas apoiadas na cama segurando a fotografia. Na foto, meu pai parecia o cara mais feliz do mundo ao lado dela, que exibia um sorriso largo em seus lábios. Ambos estavam agachados sobre a areia da praia, de costas para ao mar, e entre eles havia uma pequena figura de cabelos pretos, que parecia se divertir brincando com a areia molhada. Eu devia ter uns três anos quando essa foto foi tirada. Fiquei triste por não me lembrar, parecia um momento especial. Só percebi que estava chorando quando uma lágrima caiu sobre o vidro do porta retrato, molhando o rosto impresso da minha mãe. Sequei as lágrimas e recoloquei o porta retrato de volta no criado mudo, e voltei minha busca.

Procurei em todos os lugares possíveis, mas não encontrei nada que ajudasse. Revirei o guarda-roupa, conferi embaixo da cama e todos os lugares que pudessem servir de esconderijo e nada. Com um suspiro de decepção, saí do quarto, com o cuidado de ter deixado tudo do mesmo jeito em que havia encontrado, e fui procurar pelo resto da casa. Revirei a sala, a cozinha, a despensa, até mesmo os banheiros. Procurei em todos os cômodos mas não havia nada.

Me joguei no sofá da sala, já cansada de tanto procurar, a um passo de desistir da busca. Olhei pela janela aberta e por algum motivo, me veio à mente a noite em que eu havia encontrado Alex em sua forma de lobo pela primeira vez. Eu só tinha descoberto que era ele muitos dias depois. Naquela noite, Will estava aqui em casa, e ambos nos assustamos quando ouvimos o barulho. Enquanto ele ia procurar algo para nos proteger, eu fui até lá fora e antes de ver o grande lobo à espreita nas árvores, eu vi latas e coisas de metal espalhadas pelo chão - o que havia causado o barulho, concluí -. Os entulhos estavam jogados no chão à frente da velha cabana de madeira do meu pai, que era onde ele costumava guardar as coisas que não usava mais. Supus que Alex - em sua forma de lobo - havia subido no telhado da cabana, e ao descer tenha colidido com as latas, fazendo o barulho.

Me levantei, alerta. Meu pai costumava guardar ferramentas e coisas que não usava mais naquela cabana. Eu nunca tinha visto razão para entrar lá, nem mesmo quando era criança. Para mim sempre havia sido só mais um lugar para guardar as tralhas, nada que pudesse valer a pena ver. Mas e se...

Saí correndo em direção ao jardim, os canteiros recém cuidados começando a florescer ao meu redor. Desejei mentalmente logo poder ver os girassóis quando crescessem. Parei quando cheguei à velha cabana, ainda intacta depois de tantos anos. Alcancei a porta e empurrei. Estava trancada. Sorri amargamente. É claro que estava trancada. Havia um cadeado enferrujado trancando o lugar. Agarrei o mesmo e tentei puxar, mas ele nem se moveu. Aparentemente, o cadeado estava velho, mas ainda servia muito bem. Descartei a ideia de procurar a chave - se havia mesmo algo lá dentro, meu pai não deixaria a chave solta por aí - e tentei pensar em algo que pudesse me ajudar. Pensei em Alina usando seus poderes para realizar as tarefas de casa e pensei se eu seria capaz de usar os meus para abrir um cadeado. Fechei os olhos e repeti os mesmos exercícios de mentalização de antes, só que dessa vez, visualizei o cadeado se abrindo. Mas quando abri os olhos, me decepcionei ao ver que ele permanecia intacto.

O Uivo da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora