Naquela noite acordei assustada mais uma vez. O sol ainda não havia nascido e meu quarto estava escuro. O sonho continuava persistindo e era sempre a mesma coisa. Porém, algo havia mudado. Dessa vez, no momento em que me encontrava no campo de flores brancas e admirava o brilho da lua, uma voz falou comigo. Era uma voz de mulher, doce e suave, mas parecia urgente.
- É chegado o momento, Selena - Dizia.
Eu olhei em todas as direções a procura da origem daquela voz, mas não encontrei ninguém. Eu estava sozinha. Tentei falar, perguntar o que ela queria dizer, mas ao abrir os lábios as palavras não saíram.
- Sua revelação está próxima, minha pequena lua - Ela Continuou. - Não tenha medo.
A pedra em meu pescoço ainda refletia uma luz azul misteriosa.
Tentei falar novamente, mas era como se eu houvesse perdido o dom da fala. Aguardei até que a voz continuasse, mas ela não disse mais nada. Ao invés daquela doce e misteriosa voz, só o que eu escuto é o barulho de passos pesados pisando o chão por entre as folhas dos arbustos, se aproximando como em todos os outros sonhos, cada vez mais próximo de mim. Começo a correr e o barulho aumenta, até que tropeço em um galho solto e caio sobre o chão. O que for que estivesse ali, já havia ganho.
Ao me virar para a escuridão da floresta, o que eu vejo faz meu coração se acelerar dentro do peito e o ar parece não penetrar em meus pulmões. Se destacando da penumbra completa, um grande par de olhos dourados me observavam. Não parecia humano, mas também não parecia completamente animal. A criatura se aproxima, as patas dianteiras já visíveis sob a luz da lua. Ela deu mais alguns passos em minha direção, e no momento em que ela seria iluminada por inteiro e eu poderia vê-la, e finalmente descobrir o que era aquilo que me perseguia em todos os sonhos, eu acordo.
Depois disso não consegui voltar a dormir. Estava sem fôlego e gotas de suor frio escorriam em minha pele. Aquilo estava me deixando perturbada. Não havia nada de lógico naquele sonho. Mas por que ele insistia em acontecer toda noite?
Me sentei no pequeno sofá em frente à janela aberta, e observei seu exterior. O céu não estava totalmente negro, já que o sol não demoraria muito a nascer, mas ainda haviam algumas estrelas espalhadas naquela imensidão. Ao longe, pude ouvir o barulho das ondas tocando a areia da praia enquanto uma leve brisa tocava minha face. Fiquei assim até o nascer do sol, e devo admitir, pelo menos isso compensou minha falta de sono. O céu escuro deu lugar a um azul suave e os raios de sol davam às poucas nuvens uma coloração rosa alaranjada. Depois de uma noite perturbada, os passarinhos já cantavam indicando o início de um novo dia.
Relutantemente me levantei e comecei a me arrumar para a escola. Depois de tomar banho, vesti uma calça jeans e um suéter cinza. Prendi meus cabelos em um rabo alto e passei um pouco de gloss nos lábios. Peguei minha mochila e desci as escadas. Encontrei meu pai já terminando seu café.
- Bom dia, pai - Me sento ao seu lado na mesa e me sirvo de café fresco.
- Bom dia, querida - Ele disse com a voz cansada. - Hoje é meu dia de fazer a ronda noturna, então é provável que só volte para casa amanhã - Seus olhos estavam fixos em mim enquanto falava, e sua voz parecia cautelosa ao dizer cada palavra. - Se quiser chamar alguma amiga pra ficar aqui com você, ou até mesmo o Will. Por mim tudo bem, só não quero que fique sozinha.
Meu pai fazia a ronda noturna na cidade pelo menos uma vez no mês, então eu ficava sozinha em casa. Não completamente sozinha, já que quase sempre Will ficava aqui comigo, e às vezes Taylor também vinha junto. Ficávamos acordados até tarde vendo filmes e comendo besteiras.
Meu pai confiava completamente em Will. Sabia que ele não era como os garotos que encontrava por aí e que não faríamos nada fora do permitido. Então não se importava com as vezes em que ele dormia aqui em casa. E além disso, éramos só amigos, então ele não precisava se preocupar.
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O Uivo da Lua
Teen FictionSelena é uma jovem de 17 anos que desde que perdeu a mãe quando criança, vive sozinha com seu pai. Sua vida podia ser considerada particularmente normal. Ela ia para a escola, às vezes saía com os poucos amigos que tinha e comia pizza com o pai todo...