Capítulo 27

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Meus cabelos ainda estavam um pouco úmidos, mas eu já havia substituído as roupas molhadas por algo limpo e seco. Estava sentada no sofá, encolhida em um cobertor que Will insistira em pegar para mim, enquanto o observava na cozinha. O doce aroma do chá feito por ele me inundou completamente. Minutos depois ele apareceu ao meu lado, segurando uma caneca.

- Aqui - Will me entregou a caneca com chá de camomila quente. - Não quero que fique doente.

- Obrigada - Sorri. Inspirei profundamente aquele delicioso aroma e beberiquei um pouco do líquido. Estava quente, mas bom. - Onde está o seu? Também não quero que fique doente - Perguntei quando vi que não havia uma segunda caneca em suas mãos.

Will deu de ombros. Ele também havia trocado de roupa, e usava uma camisa branca e uma calça de moletom que eu peguei do guarda roupa do meu pai. Ficaram um pouco largas, já que ele era consideravelmente mais magro que meu pai. Mas era melhor do que continuar com suas roupas molhadas.

- Não gosto muito de chá - Will fez uma careta como se lembrasse do gosto de algo ruim.

- Mas devia tomar - Tomei outro gole do chá. - Você pegou uma chuva e tanto.

- Nós dois pegamos.

Ficamos em silêncio enquanto eu me lembrava de tudo o que havia acontecido.

- Quando quiser me contar - Sua voz cautelosa quebrou o silêncio entre nós, me fazendo erguer os olhos até ele. - Estarei pronto para ouvir.

Lá fora, a chuva ainda caía, e pequenas gotas escorriam pelo vidro da janela. O barulho de chuva sempre me acalmou. Quando chovia, eu gostava de ficar horas sentada de frente para a janela do meu quarto, apenas observando o céu cinzento. Porém, naquele momento, aquilo não me ajudou a ficar mais calma.

Eu não podia mais fugir. Não podia mais esconder aquele segredo de Will. Eu precisava contar, e aquele era o momento certo.

Respirei fundo e esperei a coragem vir.

- Tudo bem - Falei, por fim. - Eu vou contar. Mas precisa ouvir atentamente cada palavra minha antes de surtar. Tá legal?

Quase pude ouvir sua risada confusa.

- Por que eu surtaria? - Quando viu minha expressão séria, ele assentiu. - Tá legal.

Então eu falei. Revelei cada detalhe obscuro que eu sabia sobre mim. Sobre minha vida. Sobre o mundo. Will me ouviu atentamente, com os olhos arregalados e incrédulos, como se eu tivesse ficado louca. Mas ele sabia que eu falava a verdade. Will me conhecia mais do que ninguém, e se fosse preciso acreditar em uma história maluca como essa, ele acreditaria. Por mim.

- Uau - Ele se jogou de costas no sofá e encarou o vazio assim que terminei de falar. Parecia precisar de um tempo para digerir tudo aquilo. E eu não o julgava por isso. Era muita coisa para assimilar de uma vez só.

Aguardei, esperando que ele dissesse mais alguma coisa. Mas não. Ele permaneceu em silêncio, com os olhos fixos no nada.

- E então... - Falei.

- Nossa! - Will riu diante daquilo, como se estivéssemos conversando sobre algo absurdo. - Tá dizendo que existem lobisomens no mundo, é isso?

- Não só lobisomens.

- Vampiros?

Confirmei.

- Bruxas?

- Com certeza.

- Dragões?

- Acho que isso não - Dei uma risada.

- É, acho que não seria fácil esconder criaturas voadoras gigantes que cospem fogo.

O Uivo da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora