Capítulo 49 (Final?)

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Eu me forçava a continuar ali, mas já não reconhecia mais aquela que me olhava de volta. Não reconhecia aqueles olhos vermelhos e sem vida, e nem as feridas sobre a pele. Toquei aquela única mecha de cabelo branca em meio às ondas escuras. Quando ela havia ido parar ali? Que monstro era aquele que me encarava de volta do espelho?

Agarrei a pia com força evitando que minhas mãos fossem de encontro ao vidro. Eu precisava manter a calma e encarar as coisas como elas eram agora.

Respirei fundo uma vez. Duas vezes.

Eu precisava de um banho. Precisava tirar esse cheiro de morte de mim.

Respirei fundo três vezes.

Liguei o chuveiro e deixei o vapor quente preencher o banheiro. A jaqueta que me cobria caiu no chão, me deixando completamente nua. Fechei os olhos e deixei que a água limpasse meu corpo. Por vários minutos eu mal consegui me mexer, apenas me permiti ficar com os olhos fechados. Depois esfreguei incansavelmente cada centímetro da minha pele.

Uma vez. Duas vezes. Três vezes.

Por mais que eu esfregasse, eu não conseguia me sentir completamente limpa. Eu olhava para minhas mãos e via sangue nelas.

- Droga.

Escorreguei pela parede e me encolhi no canto. Eu poderia fingir que não estava chorando se pensasse que era apenas a água do chuveiro. Poderia funcionar.

Não sei quanto tempo fiquei ali. Não pareceu muito, mas sei que foi.

De volta na frente do espelho me encarei. Peguei a escova e tirei a toalha do cabelo. E de novo parecia que aquela mecha branca estava ali pra zombar de mim, e jogar na minha cara tudo o que eu tinha feito.

Respiro uma vez e desembaraço o cabelo.

O relógio marca 04:15 quando finalmente me sento na cama. Eu deveria dormir e descansar, porque foi um dia cheio. Mas eu não consigo dormir agora, e nem sei se algum dia vou conseguir de novo.

Fico encarando a janela aberta por horas até perceber que o sol logo iria nascer. Não ouvi barulho nenhum em casa, então meu pai não deve ter chegado, ou talvez esteja lá fora se decidindo se entra ou se muda de país de uma vez.

Horas atrás quando tudo terminou, não conversamos muito. Ele apenas me mandou pra casa e disse que cuidaria de tudo. Nem disse que conversaríamos depois. Precisava de tempo, sei disso. Ele nem me olhou nos olhos, e isso me doeu muito. Meu pai deve me odiar agora.

Ele disse que cuidaria do Robert, mas eu não fazia ideia de o que faria com ele, e pra falar a verdade, não estava muito a fim de saber. Eu só queria sair dali logo, então vim correndo pra cá. Desde então estou sozinha, e é melhor assim. Alex não ligou desde então, apenas deixou uma mensagem. Uma ÚNICA mensagem.

Alex: Me liga quando quiser. Vou estar aqui.

Não sei se ele estava apenas me dando espaço e tempo pra assimilar tudo, ou se estava com medo. De qualquer forma, era melhor assim.

Por outro lado, meu celular só parou de tocar há alguns minutos atrás. 77 ligações perdidas. Eu não queria falar com ninguém agora, mas foi tudo muito injusto com ele, e eu não queria piorar tudo e aumentar ainda mais sua preocupação. E ele não estava lá. Não viu tudo o que aconteceu.

Retornei as ligações e no primeiro toque, como se ele estivesse com o celular na mão, esperando, Will atendeu. 

A primeira coisa que ouvi foi um suspiro de alívio do outro lado.

- Selena?

- Oi, Will - Tentei soar normal. Bem. - Sabe que horas são? Não devia estar acordado.

- Nunca fiquei tão feliz em ouvir sua voz - Ele parecia fazer um esforço pra manter a voz calma. - Você tá bem? Se machucou? Desculpa ter ligado tantas vezes, eu... não, não vou pedir desculpas por isso. Eu estava preocupado. Eu estou preocupado. Estou feliz por ter atendido, sei que devia estar se recuperar primeiro. Eu estava indo pra sua casa, mas não sabia se... Bem, eu só... me desculpa. Queria saber se estava bem.

O Uivo da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora