O Uivo da Lua

Capítulo 7

Na segunda-feira, acordei cedo depois de mais uma tensa, mas já normal, noite de sonhos ruins. Depois de fazer minhas higienes matinais, fui me trocar. Vesti uma calça jeans e uma camisa amarela sob uma jaqueta preta, e saí para encontrar Will para irmos juntos à escola.

- Ansiosa para os seus 17 anos? - Pelo canto do olho pude ver Will levantar o olhar na altura do meu rosto enquanto abria um sorriso divertido.

- Ah! - Reviro os olhos. - Achei que não estava lembrando disso.

- Tá doida, é? Como eu iria esquecer, lindinha?

Will passou seus braços nus e bronzeados ao redor de meus ombros e continuamos a caminhar pelas ruas ensolaradas de Laguna Beach, indo em direção ao nosso colégio para mais uma longa semana de aulas.

Eu não era uma daquelas pessoas que ficavam empolgadas com a chegada do próprio aniversário. Com certeza essa era uma das minhas datas festivas menos favoritas do ano. Talvez fosse a menos favorita. O problema é que eu nunca gostei de ser o centro das atenções em nada. E era exatamente o que acontecia nos aniversários.

Já houve um tempo em que eu gostava dessa data, mas eu era bem pequena e minha mãe ainda estava viva. Meus pais sempre faziam pequenas festas para comemorar, e só convidavam aqueles que realmente importavam. E admito, era incrível! Eu brincava com as outras crianças e não parava de sorrir. Parecia mágico. Mas agora, todo o brilho e a magia dos aniversários haviam desaparecidos. Acho que é o que acontece quando a gente cresce. Passamos a não enxergar o valor dessas pequenas coisas. Mas esse não era o meu problema. O simples fato de não ter minha mãe comigo, fazia todas as comemorações perderem o brilho. Por que comemorar se ela não estaria ali para participar?

- E então - A voz de Will me arrancou de meus pensamentos, o que me deixou aliviada. - Como vai querer comemorar dessa vez?

- Que tal fingirmos que é apenas mais um sábado normal e não fizermos absolutamente nada? - Sorrio esperançosa mesmo sabendo que ele não concordaria.

- Sem chances - Will balança a cabeça e ri como se tivesse ouvido a coisa mais absurda do mundo. - É o seu dia, Selena. Precisamos comemorar.

Dou um suspiro cansado. Sabia que ele não desistiria, todo ano era a mesma coisa.

- Tudo bem - Digo por fim. - Mas eu não quero nada exagerado, tá? - Paro de andar e o encaro com um olhar ameaçador.

- Podemos fazer uma festa na sua casa. A gente se livra do seu pai, chamamos a galera da escola e compramos algumas bebidas - Ele contava cada item nos dedos da mão.

- Will!

- É brincadeira, lindinha - Will dá uma risada e me puxa para si em um abraço divertido. - Eu topo o que você quiser. Se quiser passar o dia todo sentada em frente à tv comendo pizza, pra mim tá ótimo. Só quero estar com você, tá bom? - Seus dedos deslizavam distraidamente pelas mechas negras dos meus cabelos.

- Obrigada, Will.

Apoiei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos, me permitindo sentir o aroma de sua pele. Sempre achei que Will possuía um cheiro único. Seu cheiro era como a maresia provocada pelo movimento das ondas do mar. Era inebriante, assim como tudo nele. Ele sempre me fazia pensar em um dia de sol quente na praia, quando eu apenas admirava o cenário em minha volta, sentada sobre a areia fina e macia, que sempre provocava uma sensação calorosa em minha pele, ou às vezes me fazia sentir cócegas entre os dedos dos pés. Mesmo assim, era bom. Eu ficava em silêncio, ouvia o som das ondas se quebrando e sentia a brisa litorânea acariciar meu rosto e balançar meus cabelos. Will me fazia pensar em coisas assim.

Bem, esse era Will. A ligação entre o mar e ele era muito intensa, assim como nossa amizade. E a energia que ele exalava quando estava em seu ambiente favorito, sempre me deixava feliz. Ele sempre ficava eufórico quando ia à praia, mesmo sendo algo rotineiro em sua vida. Eu gostava muito desse seu lado. Sorri, ainda envolvida por aqueles braços fortes e calorosos, pensando em como ele me fazia bem, e o quanto ele era importante pra mim. Com toda a certeza, Will era o melhor amigo que eu poderia ter.