Capítulo 43

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- Sabe que não precisa fazer isso.

Aquela era uma cena que eu jamais imaginei que um dia presenciaria. Muito menos que eu seria o foco principal de tudo aquilo. Depois que Alex, Will e Agatha foram embora, me deixando sozinha, – por completa escolha minha – meu tio não queria perder mais tempo. Não contou mais histórias que eu não tinha certeza de que não quisesse ouvir. Ele não queria mais enrolar aquilo. E no fundo, apesar do medo crescente dentro de mim, eu também não queria.

Então ele instruiu os dois homens que me seguravam a me arrastarem na direção da fogueira, onde um velho carvalho descansava logo atrás. Eu não protestei quando usaram uma corda para me amarrar junto ao tronco da árvore. Apesar de tornar tudo aquilo ainda mais assustador, eu sabia que tentar resistir seria inútil. O sol havia se posto havia algum tempo, apesar de o céu ainda possuir um pouco daquela coloração alaranjada de fim de tarde. A fogueira em minha frente queimava. E eu não sabia se o suor em meu rosto era devido ao calor do fogo ou apenas devido ao medo insistente.

Fogo.

A primeira coisa que me veio à mente foi as histórias de mulheres julgadas como bruxas sendo queimadas em fogueiras como aquela. A coincidência era mesmo irônica. Ou talvez, trágica.

- Sei que não preciso amarrar você – Meu tio falou, de frente para mim. – Mas prefiro não correr riscos. Demorou muito para que esse momento finalmente chegasse.

Eu estava pronta para proferir palavras horríveis a ele. Queria xingá-lo de todas as formas que eu conseguisse. Mas antes que eu fosse capaz de dizer uma sílaba sequer, ele deu as costas para mim, e foi em direção às pessoas ali. Seus seguidores. Ele parou a poucos passos da fogueira, o fogo queimando às suas costas.

- Companheiros – Sua voz se elevou, se dirigindo a todos. - Sei o quanto esperaram por esse momento. Sei o quanto almejavam isso. Os benefícios... – Ele encarou rapidamente cada rosto ali. – Por muito tempo fomos prisioneiros de uma injustiça imposta sobre nós séculos atrás. Uma maldição colocada sobre a nossa espécie por uma bruxa furiosa que só queria vingança. Isso não foi justo. Para nenhum de nós. Achavam que tinham algum direito sobre nós? Não sabem o quanto estavam enganados – Conforme suas palavras atingiam a todos, a multidão se agitava. – Apenas nós temos direitos sobre nosso poder. Sobre nós mesmos. Nunca mais vão nos acorrentar assim. Um lobo não pode ser acorrentado. Nunca mais seremos humilhados dessa forma. Neste dia, iremos recuperar aquilo que um dia foi tirado de nós – Uma pausa dramática antes de continuar. Meu coração batia cada vez mais forte. Eu encarei cada um ali, à procura de um rosto amigável. Algum rosto que tivesse pena de mim. Mas todos pareciam querer a mesma coisa. Não se importavam se para conseguirem aquilo que queriam, uma vida tivesse que ser sacrificada. Estavam eufóricos. – Meus irmãos, hoje alcançaremos a nossa tão sonhada liberdade... Seremos livres!

A multidão explodiu. Gritos de apoio de cada um deles se misturaram em uma única voz. Estavam reunidos ali por um propósito. Juntos. Era uma atitude admirável.

- Rubi?

A mulher de cabelos avermelhados que eu conheci um dia naquela loja se aproximou do meu tio. Ela não acenou ou fez qualquer tipo de reverência para ele, como os outros ali faziam ao se direcionarem ao homem. Em seus braços ela trazia um livro grosso de aparência antiga e gasta.

- Sim, Robert – Ela sorria. Rubi era uma bruxa, devia apoiar os seus. Mas ela parecia orgulhosa de participar daquilo. Como se também fosse se beneficiar de alguma forma.

- Está tudo pronto? – Meu tio envolveu a cintura de Rubi e sorriu para ela. Então era por isso...

- Sim, senhor.

O Uivo da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora