Capítulo 18 - Perdida

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Satoru

Por diversas vezes fui interrompido nas tentativas de pegar minhas espadas. Outras, usaram mais corda para me amarrar e seria impossível alcançá-las. Dias se passaram e eles não me executaram. As torturas pararam. Começaram a me dar água e comida todos os dias. Um dia, escoltaram-me para andar pelo acampamento. Achei que havia chegado minha hora, mas trouxeram-me de volta para a tenda. Esses passeios passaram a ser rotineiros. Com isso, pude observá-los. Eles são desleixados. Seriam vencidos rapidamente por um exército bem treinado.

O general não se importa com a minha presença. Ele reúne seus homens e dá ordens como se eu não estivesse aqui. Presenciei muitas reuniões do alto escalão. Por isso, sei muito sobre o plano de ataque de Mitsunari. Se conseguisse fugir, poderia avisar o exército de Tokugawa e tentar recuperar minha honra. Mas, eles não fazem muita coisa. Só querem saber de descansar e beber. Então, vieram as mulheres. Eu ouvia de longe suas músicas e cantoria. Os homens gargalhando, completamente bêbados. Elas iam embora e o acampamento ficava em silêncio. Até o general começar a trazê-las para dentro. Cada dia era uma diferente. Ele se deitava com elas e eu era obrigado a ouvi-los. Não os via porque virava o rosto para o outro lado. Ele sempre era muito rude com elas, chegando a ser violento. Esse homem não tem escrúpulos! O que ele ainda queria de mim? Eu não sabia!

Em meus dias, só podia esperar que o tempo passasse. Então, preferi me ocupar com meditação. Não podia fortalecer meu corpo, mas a minha mente ia a qualquer lugar que eu quisesse. Muitas vezes pensava em Emi. Onde será que está? O que será que estará fazendo? Imaginava ela limpando a casa ou cozinhando ao lado da senhora Issa. Será que estará treinando? Ela passearia com Haiden e poderia treinar com a wakizashi longe das vistas de meu pai. E Kazuo? Será que se aproximaram? Não conseguia pensar em outro homem tocando seu rosto ou beijando seus lábios. Era desesperador!

Certo dia, eu caminhava pelo acamamento e tive a impressão de vê-la na floresta, escondida atrás de uma moita. Mas, quando olhei novamente, ela não estava mais lá. Dei para ter alucinações! Então, passei a ter a sensação de que algo poderia acontecer a qualquer momento.

Hoje, a algazarra dos homens me despertou e sabia que as mulheres haviam chegado. Logo, ouvi o general se aproximar. Com certeza ele estaria com uma delas. Então, vi a moça apontar na entrada da tenda. Ela olha para todos os lados e seus olhos encontram os meus. Por um momento, é como se eu tivesse visto um brilho de esperança. Seu rosto! Ou era Emi ou meus olhos me pregavam uma peça.

O general caminha até perto de sua cama, com a moça o seguindo. Ele pega sua cintura, puxando-a bruscamente para perto de si, e beija com ferocidade seu pescoço. Minha vontade é gritar para que tire suas mãos nojentas de cima dela. Ele não é nem um pouco gentil.

Fico olhando-a fixamente. É Emi! Eu reconheceria aqueles olhos em qualquer lugar. Não pode ser! O que aconteceu com ela? Não pode ter se perdido na vida em tão pouco tempo. Não a ponto de ter que se tornar uma prostituta. Não! Emi, não! Saia daí! Fuja para longe desse homem! Corra!

Ele praticamente a joga sobre o shikibuton e se deita sobre ela, tentando levantar seu quimono com uma das mãos. Eu cerro os dentes e os punhos. Eu queria pular em cima dele, mas estava amarrado e seria facilmente vencido. Meu instinto seria virar o rosto para o outro lado para não ver, mas eu precisava saber tudo o que aconteceria.

Emi dá risadinhas. Ela passa a mão no pescoço dele, descendo-a para seu tórax pela abertura do quimono.

– Você está muito tenso, general. Não quer que eu lhe faça uma massagem? – ela fala com uma voz sensual e morde seu lábio inferior, provocante.

Como ela pode fazer isso? Disse que me amava e agora se deita com esse homem? E na minha frente! Mas, quem sou eu para dizer algo? Eu a larguei, sem nem querer saber como ela ficaria. Fui um imbecil! Fiz o que meu pai achou que era melhor. Eu me arrependo todos os dias por não ter pedido que ela me esperasse.

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