Capítulo 19 - Amigos

758 103 4
                                    

Emi

Quando Satoru não conseguir montar me cortou o coração. Mas, antes de partir, ele já montou sozinho. Sei que aos poucos a sua autoconfiança retornará.

Eu não queria me separar dele, mas era necessário. Ele precisava avisar nosso exército sobre a emboscada de Mitsunari, pois nos atacar pela retaguarda não traria honra a sua vitória. Para um samurai, a etiqueta também deve ser seguida na guerra. Por isso, nossas batalhas são marcadas. Antes de começar, um guerreiro galopa até a linha de frente inimiga para anunciar seus feitos pessoais e de seu exército, dizendo sua ascendência e referenciando seus antepassados. Eles trocam ameaças e intimidações, mas o homem retorna para seu exército e, só então, se inicia a batalha.

Fiquei parada, vendo-o se distanciar. Demorei tanto para encontrá-lo e tive que deixá-lo partir. Pela forma como ele me olhou, sei que ainda me ama. Sentir novamente o toque de sua mão em meu rosto fez meu coração disparar. Então, ele se aproximou de mim e pude ter seus lábios nos meus por alguns instantes. Minhas pernas começaram a tremer. Minha vontade era irmos embora dali, deixar tudo para trás e voltarmos para casa. Mas, a vida dos homens de nosso exército e, principalmente, de meu regimento também dependia de nós. Eu tinha amigos que caminhavam em direção a uma batalha desleal. Não podíamos deixar que os planos de Mitsunari se concretizassem.

Caminho pela floresta, acompanhando a estrada. Eu sei que ela me levará aonde quero. Começo a acelerar meus passos e, quando percebo, estou correndo. Preciso alcançá-los! Enquanto corro, peço aos deuses que protejam Satoru e meus amigos; que eu encontre uma montaria, mas não o inimigo. Mais a frente, a estrada tem uma bifurcação. Paro e olho para cada lado, tentando decifrar para onde devo seguir. Esquerda! A palavra ecoa em minha mente. Então, continuo a correr.

Ora olho a floresta, ora a estrada. De repente, vejo uma casa simples próxima a uma pequena plantação. Um arado descansa ao lado da casa. Se há um arado, provavelmente há um cavalo. Se ele ainda não foi confiscado por algum dos exércitos.

Uma senhora está sentada na varanda com uma bacia em seu colo. Ela despetala alguma hortaliça. Ao ver-me, arregala seus olhos e grita. Levanto minhas mãos para que ela as veja, tentando mostrar que não vou machucá-la. Um homem surge com uma forquilha em suas mãos.

– O que quer aqui? – ele grita.

– Preciso da sua ajuda, senhor! – grito para que ele me ouça.

– Pare onde está, samurai!

Retiro minhas armas, colocando-as no chão aos meus pés. O senhor olha para a mulher ao seu lado e seus rostos suavizam.

– Eu não vou machucá-los!

– Quer alguma coisa para beber, rapaz? – a senhora pergunta.

Rapaz. Para eles, sou Akira. Não vejo a hora de voltar a ser Emi.

– Um pouco de água seria bom.

– Aguarde aqui na sombra. – o senhor fala.

– Vou deixar minhas armas aqui. – falo apontando-as.

– Não precisa, jovem. Traga-as com você.

Eu pego minhas armas e caminho até a varanda. A senhora traz uma vasilha com água fresca e me dá uma caneca. Depois de correr tanto, é como um bálsamo para a minha garganta seca.

– Passou um grupo de samurais por aqui? – pergunto.

– Há muito tempo não víamos um.

– Vi um regimento de Mitsunari vindo nessa direção pela manhã.

A samuraiOnde histórias criam vida. Descubra agora