Emi
Primeiro ele chega todo carinhoso e dizendo que sentiu minha falta. Depois, ele me dá um beijo e vai embora? Quem ele pensa que sou?
Foi meu primeiro beijo e foi muito bom. Eu queria mais. Não queria deixá-lo ir, mas o que eu podia fazer? Se ele se arrependeu do que fez, só me resta esquecer que isso aconteceu e tentar tirá-lo do meu coração. Vou evitar ao máximo encontrá-lo. Assim será melhor.
Eu só não sabia o quanto seria difícil esquecer aquele beijo. A sensação da sua mão em meu rosto e seus lábios tocando suavemente os meus. Ao mesmo tempo estava feliz, sentia raiva por ele ter me deixado lá. Eu queria saber o que ele pensou para me beijar e, depois, para ter ido embora.
Isso aconteceu há cerca de sete dias e ele ainda não me procurou. Vi o senhor que chegou com ele. Conversavam no jardim outro dia quando passei. Notei também que Satoru parecia preocupado. Mas, não quero ficar lembrando isso. Amanhã é meu aniversário e não quero pensar em nada que me deixe triste, como: será que minha mãe vai lembrar? Ou minha avó? Todos os anos eu ganho algo de minha avó. Pode até ser um presente simples, mas nunca faltou um ano. Será que dessa vez será diferente? Provavelmente sim! Melhor eu dormir ao invés de ficar pensando.
Minha noite não veio acompanhada de sonhos. Acordo, tranquila. Quero que o dia seja como outro qualquer, mas é meu aniversário de dezenove anos e o primeiro longe da família.
Eu estou na cozinha com a senhora Issa quando o senhor Takashi entra.
– Emi, tenho algo para você.
Olho para ele, que traz um pequeno embrulho em suas mãos.
– Para mim?
– Sim. Sua avó pediu que lhe entregasse.
Solto um gritinho de felicidade e corro até ele.
– Ela se lembrou!
Eles ficam me olhando sem entender nada. Eu abro o embrulho e nele há um pente de colocar nos cabelos enfeitado com flores kazanshi que lembram flores de cerejeira.
– É lindo!
Meus olhos marejaram com a saudade em meu peito. Queria poder abraçá-la e agradecer.
– Ela se lembrou do que, Emi? – pergunta a senhora Issa.
– De meu aniversário.
– Aniversário? Quando?
– Hoje.
– E você não nos disse nada?
Ela anda rapidamente até mim e me dá um abraço apertado. Não é como o da minha avó, mas é muito bom receber esse abraço tão carinhoso.
– Felicidades, menina! – ela diz.
– Felicidades! – disse o senhor Takashi.
– Obrigada!
– Agora, vá passear. Tire o resto do dia para você.
– Não! Senhora, temos o que fazer.
– Eu dou conta um dia sozinha. Vá! Vá! – disse ela fazendo movimentos com a mão como se me enxotasse.
– Está bem!
Eu tinha que aceitar, pois passear um pouco me faria bem. A cerejeira da frente da casa começava a florir. Vou para meu quarto, deixo o presente e sigo em direção ao jardim de trás da casa de hóspedes. Preciso conferir como as cerejeiras de lá. E, como eu imaginava: as primeiras flores começam a abrir. Esse lugar ficará maravilhoso dentro de poucos dias.
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A samurai
Historical FictionJapão, 1600 d.C. Emi Tanaka é uma jovem simples que vive em um vilarejo nas terras do Senhor Tatsuo, do clã Ikeda. Emi é escolhida para trabalhar na casa dele e isso é uma honra para a sua família. Alguns meses depois, o filho do Senhor Tatsuo, o gu...