Capítulo 12 - Carta

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Satoru

A noite do jantar com Emi foi a mais feliz de minha vida. Tê-la em meus braços e poder beijá-la foi uma sensação maravilhosa. É bom saber que não temos segredos um para o outro. Eu quero poder dizer-lhe tudo o que penso e sinto sem medo. E, agora que sei que ela sente o mesmo, preciso descobrir como contar isso para meu pai. Mas, por enquanto, é melhor que ninguém saiba sobre nós.

Para podermos passar um tempo a sós, comecei a levá-la comigo em passeios com Haiden, que aceitou bem nosso peso sobre seu dorso. Sentir os braços de Emi em volta da minha cintura e seu corpo junto ao meu é tudo o que eu queria. Às vezes, preciso me controlar para que não a desrespeite. Terei que ir à casa de sua família, conhecer sua mãe e avó para pedir sua mão em casamento. Então, poderei tê-la totalmente para mim.

Poderemos pedir um pedaço de terra para meu pai e construir uma casa para nós. Construiremos outra próxima à nossa para que sua família possa estar por perto. Sei o quanto elas são importantes para Emi. Infelizmente, não poderei levar a senhora Issa comigo. Isso meu pai não permitirá. Será que ele aceitará a minha decisão? Emi é tudo o que eu quero! Ele terá que aceitá-la ou me perderá para sempre! Não abrirei mão da mulher que amo por causa dele!

Tudo estava indo maravilhosamente bem até a chegada daquela maldita carta. Eu e Emi voltávamos de um delicioso passeio e passávamos na frente da casa principal quando o senhor Takashi a entregou em minhas mãos. Um ashigaro a trouxera enquanto estávamos fora. De início, eu a guardei porque estava com Emi. Queria ficar ao lado dela por mais um tempo. Então, colocamos Haiden em sua baia e eu a beijei ali mesmo. Não tinha mais receio algum de que alguém descobrisse sobre nós. Eu queria era gritar ao mundo que eu a amava e ia tomá-la como minha esposa. Mas, então, à noite eu li a carta de meu comandante. Nela, ele agradecia a chegada dos novos homens, que agregaram grande força ao nosso exército, e solicitava o meu retorno imediato para os campos de batalha.

Eu li e reli a carta diversas vezes. Não podia acreditar que isso está acontecendo. Não queria voltar aos campos de batalha. Não agora que tenho Emi! Mas, eu precisava cumprir minhas ordens. Só precisava encontrar a maneira ideal de contar isso para Emi – se é que existe uma – e dizer que, assim que eu voltar, nos casaremos.

Eu peguei um dos desenhos que fiz dela. Fiquei olhando-o e tentando pensar. Nenhuma forma que eu contasse seria boa. Afinal, essa notícia era ruim. Emi já perdeu o pai para essa guerra e eu teria que voltar a ela.

Adormeci com o desenho em minhas mãos. Tenho certeza que havia deixado minha lamparina acesa. Mas, quando acordo, ela está apagada. Alguém entrou em meu quarto e a apagou. Mas quem? Eu dormia tão pesado que nem acordei? Deve ser a preocupação.

Permaneço em meu quarto organizando meus pensamentos. Eu preciso conversar com Emi a sós e longe de todos. Eu a levarei para um passeio e contarei tudo. Juntos, decidiremos o que fazer.

Estou me preparando para ir encontrá-la quando meu pai invade meu quarto. Ele ao menos podia ter batido na porta.

– Precisamos conversar! – ele diz.

– Precisa ser agora?

– Sim!

– O que o senhor deseja?

– Eu vi sua lamparina acesa essa noite e percebi que dormia. Entrei e a apaguei.

Senti meus músculos ficarem rígidos.

– Agradeço por apagá-la.

– Vi um desenho ao seu lado. Você voltou a desenhar.

– Na realidade, nunca parei.

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