Capítulo 8 - Festa

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Emi

Amanhã é o dia da festa. Apesar de ser primavera, a neve ainda cobre o solo. Ela só começará a derreter lá pelo dia 19 de fevereiro e, então, teremos chuva.

Estou na cozinha preparando pratos que serão servidos. A senhora Issa está ao meu lado. Queremos deixar tudo pronto hoje porque os convidados chegarão bem cedo. Já almoçamos e teremos a tarde inteira para os preparativos.

Hoje está sendo muito corrido e, provavelmente, não terei tempo de ir ver Haiden. Os dias em que vou vê-lo são mais alegres e, com ele, esqueço, ao menos por um tempo, a confusão que está a minha mente.

Todas as noites eu levo uma xícara de chá para o senhor Satoru e cuido de seu ferimento. Logo ele estará curado e não precisará mais que eu vá. Enquanto estou lá, conversamos sobre diversos assuntos, mas, principalmente, sobre Haiden e o livro que ele me emprestou. O livro narra a época da Guerra Genpei, onde os clãs Taira e Minamoto lutavam pelo controle do Japão. Estou adorando ler sobre os samurais com suas armas e cavalos e as estratégias de guerra usadas por eles.

Armazenamos a comida, deixamos diversas garrafas de saquê separadas na cozinha e decoramos o salão. Tudo está pronto. Já jantamos e vou levar o chá do senhor Satoru antes de ir para meu quarto dormir.

Eu bato na porta.

– Entre!

Eu deslizo a porta e entro.

– Boa noite!

– Boa noite, Emi!

Coloco a xícara sobre o gaveteiro e aguardo ele abaixar o quimono. Começo a espalhar o emplasto em sua pele quase curada.

Olho para seu rosto. Ele está pensativo. Calado. Os traços de seu rosto são firmes, mas ao mesmo tempo delicados. Ele franze um pouco os olhos.

– Você está calada hoje.

– O senhor também.

– Verdade. Estou. Aconteceu algo?

– Não. Estou pensando em tudo o que terei que fazer amanhã. E o senhor?

– Ah! Também estou pensando na festa.

– Ansioso?

– Com a festa? Não!

– Com as garotas que virão?

– Por que estaria?

– Serão suas pretendentes. Provavelmente, seu pai espera que o senhor se interesse por alguma delas.

– Como posso me interessar por alguém que mal conheço? Não será em um dia, em uma festa, que vou realmente conhecer uma dessas garotas. Conhecer alguém demanda tempo e é algo que não tenho.

– Como assim?

– Não terei tempo para dar atenção a todas as garotas e aos outros convidados.

– Concordo. Talvez o senhor Tatsuo queira que esse seja apenas um primeiro contato entre você e essas garotas.

– Pode ser.

– Depois, o senhor pode aos poucos ir conhecendo alguma que lhe interessar.

– Não sei como. A qualquer momento posso receber o chamado para voltar à guerra.

Meu coração ficou apertado com essas palavras: "voltar para a guerra". Eu já perdi meu pai para ela. Será que corro o risco de perdê-lo também? Mas, não se pode perder o que não se tem, não é mesmo? Eu suspirei.

– O que foi? – ele pergunta e vira a cabeça para me olhar.

– Será que um dia essa guerra vai acabar? Já foram tantas vidas perdidas, tanto sangue derramado.

A samuraiOnde histórias criam vida. Descubra agora