Satoru
Ouço alguém gritar. Abro a porta da varanda e vejo Emi sair de seu quarto correndo com uma espada em sua mão. Agarro minha katana e a desembainho enquanto corro em direção a frente da casa pela varanda lateral. Encontro Emi com uma wakizashi em punho. Ela está posicionada a frente da senhora Issa para protegê-la. Seus cabelos longos estão soltos e caem um pouco sobre seu rosto.
Um ashigaro está montado em um cavalo, que anda de um lado ao outro bem próximo a elas.
– Trago uma carta para o capitão Ikeda! – grita o homem.
– Emi, leve a senhora Issa para dentro! – eu grito, mas ela parece não me ouvir. – Emi!
Ela desvia o olhar para mim.
– Está tudo bem. Leve a senhora Issa para dentro. – falo em um tom mais suave.
Ela abaixa a wakizashi e acompanha a senhora Issa.
– Emi, espere-me em meu quarto. – falo quando ela passa perto de mim.
Ela me olha assustada. Ela assustou-se com o que eu disse? Mas, não se assustou com o ashigaro? E, ela sabe empunhar uma wakizashi. Nossa! Estava tão linda com seus cabelos soltos e em posição de ataque. Preciso descobrir mais sobre ela. Mas, antes, tenho que ver o que esse homem quer.
Converso com o ashigaro. Ele traz uma carta de meu comandante. Leio a carta e vejo que seu conteúdo reforça o que já me foi solicitado: viajar para todos os clãs aliados vizinhos requerendo mais homens. Precisarei fazer o mesmo pedido a meu pai e aguardar novas ordens vindas dos campos de batalha.
Dispenso o ashigaro e fico observando-o se afastar. Agora, vou falar com Emi. Estou ansioso para obter as respostas às perguntas que martelam em minha mente. Quem é essa mulher que tanto me fascina? A cada dia descubro coisas sobre ela e sinto que tenho muito mais a desvendar.
Entro em meu quarto. Ela está parada em frente minha armadura e capacete, observando-os. Sua wakizashi repousa ao lado da minha.
– Emi?
Ela passa as mãos nos olhos e vira de frente para mim, olhando para o chão. Ela estava chorando? Em que será que ela está pensando nesse instante?
– Você estava chorando? – pergunto aproximando-me e colocando uma mão em seu rosto.
– Não foi nada! – ela responde e vira o rosto, fazendo com que minha mão fique no ar.
– Com certeza aconteceu algo! Você estava chorando!
– Claro que aconteceu! Eu não devia ter pegado minha wakizashi. Não consegui pensar, apenas reagi. Fui treinada para isso.
– Você foi treinada?
– É... sim. Ninguém deveria saber sobre isso!
– Quem a treinou?
– Meu pai.
– Claro! Ele era um samurai.
– Ninguém deveria saber para não causar problemas para ele! Agora, sua memória será manchada por um descuido meu.
– Não será! Não deixarei que isso aconteça!
– Uma mulher não deveria saber lutar!
– Por que não? Ele teve seus motivos para ensiná-la.
– Ele disse que uma mulher precisa saber se defender em tempos de guerra.
– Ele estava certíssimo! Então, ele ensinou-lhe a usar a wakizashi.
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A samurai
Historical FictionJapão, 1600 d.C. Emi Tanaka é uma jovem simples que vive em um vilarejo nas terras do Senhor Tatsuo, do clã Ikeda. Emi é escolhida para trabalhar na casa dele e isso é uma honra para a sua família. Alguns meses depois, o filho do Senhor Tatsuo, o gu...