Capítulo 15 - Desespero

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Satoru

Uma luz bate em meu rosto. Tento abrir meus olhos, mas ela me ofusca a visão. Pisco algumas vezes para que meus olhos se acostumem com a claridade. Meu corpo inteiro dói. Sinto meus pulsos presos, amarrados. Estou sentado no chão e meus braços estão para trás em volta de um poste de madeira. Olho em volta e vejo que é uma espécie de tenda. Minha armadura e espadas estão em um canto. Há uma mesa com papéis em cima. Uma madeira com um shikibuton sobre ela. Estou sozinho.

Ouço vozes do lado de fora, mas não consigo discernir o que falam. Elas aproximam-se lentamente.

– Vamos ver se nosso prisioneiro já acordou. – diz uma voz grave.

Um homem de estatura mediana, cabelos um pouco grisalhos e curtos, entra na tenda. Ele veste uma armadura, que chacoalha ruidosamente com o seu andar. Seus olhos, semicerrados, olham para mim. Eu estou com meus olhos entreabertos, fingindo ainda estar desmaiado.

– Traga água para jogarmos nesse infeliz! – ele grita para alguém que está do lado de fora.

– Não será necessário. – eu digo e abro os olhos.

– Ah! Acordou!

Ele caminha lentamente, com uma das mãos apoiada na empunhadura de sua katana.

– Qual o seu nome? – ele pergunta.

Eu fico calado.

– Tenho maneiras menos educadas de tirar-lhe essa informação.

Ele fala a verdade. Vejo em seus olhos o desejo de causar-me dor.

– Satoru Ikeda. – digo.

– Patente?

– Capitão.

– Bom.

Um homem entra correndo trazendo um balde de água.

– Isso não é mais necessário. Deixe-o ai.

O homem coloca o balde no chão e se retira.

– Eu sou o general Kojima.

– Não posso dizer que é um prazer conhecê-lo.

Ele me olha enviesado.

– Acho que não está em condições de agir dessa maneira deselegante.

– Sinto que pense assim. Eu sou um prisioneiro, como poderia agir de forma diferente?

– Talvez colaborando, contando tudo o que sabe sobre os planos de Tokugawa.

– Mesmo seu eu soubesse de algo, não lhe contaria.

– É isso que vamos ver.

Ele me olha com raiva, vira-se e sai da tenda.

Eu fico olhando minhas espadas à distância. Se eu conseguisse alcançá-las poderia acabar com a desonra de ter sido capturado. Só lembro-me de um homem me chutando e eu apagando. Como será que vim parar aqui? Minha cabeça lateja no local onde ele me chutou. Estou com sede. Minha garganta está seca. Meu estômago dói com a fome que sinto. Não sei por quanto tempo fiquei desmaiado. Onde será que estamos?

O tempo parece não passar. Penso em tudo o que aconteceu nos últimos meses e no que deixei para trás. Lembro-me de meu pai, senhor Takashi, Kazuo e Seiji. A senhora Issa que sempre foi como uma mãe para mim. Haiden, meu amigo e companheiro. Emi, a mulher que tanto amo.

Eu não sei quando adormeci, mas acordo com água fria sendo jogada em mim. O homem que me jogou a água fica parado ao meu lado com um sorriso sarcástico no rosto. Eu o reconheço. É o mesmo homem que me derrubou no dia do ataque em Fushimi. Desgraçado!

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