Capítulo 20 - Sekigahara

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Emi

Alcanço a retaguarda do exército de Tokugawa rapidamente. Agora, preciso atravessar esse mar de homens até a linha de frente, onde sei que meu regimento está. Com eles, encontrarei Satoru. Falei que procurasse Riki e o capitão Tamura; que ficasse ao lado deles e, assim, seria mais fácil nos encontrarmos.

Conforme avançamos, eu desvio dos homens à minha frente. Há samurais e ashigaros para todos os lados. Eles andam a passos lentos em direção de uma batalha que poderá tirar-lhes a vida.

Anoitece. Uma chuva começa a cair e nos castiga. Os homens diminuem ainda mais o ritmo. É difícil caminhar somente à luz da lua. Inclusive para mim. Estamos apreensivos. Silenciosos. Só ouve-se o barulho do chão aos nossos pés, sendo esmagado por nossos passos. Ninguém ousa falar. Estamos compenetrados, preparando-nos internamente pelo que está por vir. Cada um enfrenta seus medos e seus anseios em sua mente.

Ao amanhecer, tento acelerar meus passos, mas com tantos homens fica complicado. Se não bastasse a floresta ser densa, uma névoa começa a baixar. Não conseguimos ver direito, mas continuamos avançando lentamente. Eles parecem perdidos. Não sabem direito o que fazer.

A névoa começa a dissipar. Gritos são ouvidos ao longe. Ouvimos disparos de arcabuzes e bombardas – espécie de canhão, disparador de projéteis. A linha de frente deve ter encontrado o inimigo. Há homens para todos os lados. Sei que são do meu exército porque cada um usa uma faixa amarela amarrada em algum lugar do corpo ou arma. Somente assim conseguimos nos identificar. De armadura, somos todos iguais. Ainda estou distante deles e no meio da floresta. Deuses! Preciso alcançá-los! Rápido!

– Alguém sabe se o planalto está longe? – grito para que me ouçam.

Ninguém parece me ouvir. Seguro o braço de um homem para chamar-lhe a atenção.

– O planalto está longe? – pergunto.

– Não sei! – ele responde puxando seu braço bruscamente.

Tento avançar, mas minha passagem fica impedida pelos homens. Olho para os lados procurando um caminho para seguir em frente. Estou ficando aflita. Satoru está na batalha e eu aqui, sem poder estar ao seu lado. Com ele e com meu regimento. Preciso achar uma maneira de prosseguir. Fecho os olhos e respiro profundamente, soltando o ar devagar. Mantenha a calma, Emi!

Começo a abrir caminho entre os homens, empurrando-os se necessário. Vou forçando minha passagem até que avisto o final da floresta. Aos poucos, os homens que restam à minha frente avançam com suas armas em punho. Eu, finalmente, consigo sair da floresta.

No imenso planalto, homens lutam entre si. Só discernimos quem são os inimigos porque eles usam uma faixa vermelha amarrada em algum lugar. Milhares de homens enfrentam-se, defendendo seus ideais. Há mortos caídos e sangue lavando a terra. É impossível encontrar alguém em meio à batalha. Agora, não tenho mais como fugir de meu destino. O jeito é lutar e rezar para que Satoru e meus amigos fiquem bem. Eu desembainho minha katana e avanço.

Um homem luta contra outros dois. Ele é meu aliado. Então, aproximo-me rapidamente para ajudá-lo. Os inimigos são maiores do que eu, mas sou ágil. Preciso usar isso a meu favor. Posiciono-me frente a um dos inimigos. Ele avança sobre mim. As lâminas de nossas katanas se chocam diversas vezes. Eu não estou mais apenas treinando. Aqui é tudo real. É ele ou eu! Não tenho opção!

O chão aos nossos pés está virando lama, que cede conforme nos movimentamos. Ele ergue sua katana e vem pela minha esquerda. Consigo parar seu golpe e desvencilhar meu corpo. Agradeço mentalmente todo o treinamento sobre os barris. Ele avança novamente, mas vem pela direita. Em um descuido, ele tropeça e consigo enfiar a lâmina de minha katana em seu ventre. Ele solta um gemido. Posso ver a dor em seus olhos. Eu puxo a minha espada e sangue escorre nela. O homem leva a mão à ferida e cai de joelhos no chão. Não posso deixá-lo sofrendo, morrendo aos poucos. Então, faço o que minha consciência pede e corto seu pescoço. Minha lâmina atravessa sua pele e a carne sem ultrapassar totalmente seu pescoço. Desse modo, sua cabeça não rolará no chão, mas ficará pendurada por uma fina camada de pele. É uma imensa falta de respeito degolar completamente um samurai. Esse é o golpe de misericórdia, muito utilizado no seppuku. Assim, é como se seus erros fossem apagados e sua honra restabelecida.

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